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terça-feira, 30 de janeiro de 2024

As amantes proustianas

A duração, o tempo que passa e está sempre fugindo, mobiliza em Proust o desejo de escrever, e é no embate da arte e da morte, no tormento dos acréscimos, que ele escreve os seis volumes de Em busca do tempo perdido. Desafio que se manifesta em frases que transbordam e se alongam numa inquietude absoluta. Mas o caudaloso do estilo também convive com o clássico, em frases como: "O amor é o espaço e o tempo tornados sensíveis ao coração", ou: "A gente não ama ninguém quando ama." E é justamente ao falar do amor que o escritor nos fala como por máximas. Mas estas são sempre provisórias ou parciais. Se ele convoca ou declama os clássicos, os conteúdos que importam são os involuntários e afetivos. Gerard Lebrun diz que o desejo proustiano vem carregado de stress, de uma doença do outro, como no amor do personagem Swann por Odette. Desejo marcado por "intermitências do coração", repetições, incapaz de "se compreender", e em cujo cerne está a decepção. Odette é por excelência a mulher errada. Nela, Swann via o que não era e não vê o que é. Os temas do equívoco, do ciúme, da intriga contra si mesmo aparecem em todas as relações amorosas do romance. A máquina do imaginário está sempre em busca de outra coisa, fugidia. O outro desejado não é o que se quer ser, mas o que se quer ter. Mas do outro só se pode ter pedaços, e o próprio Narrador proustiano se revela como uma série de "eus" possíveis e incompletos. Assim a escrita do romance é o fechamento de uma experiência que não se fecha.