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quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

Newsletter de Fevereiro




Mija nos deuses e corre nua pela proa da Floresta 
Texto de Carlos J. Pessoa
 
 A Outra Tempestade vai ao Porto, a convite do Teatro Nacional São João. Vamos apresentar o espectáculo no TECA ( Teatro Carlos Alberto). É do Porto que vem Portugal? Não sei. 
Sei que a Garagem vem muito do Porto; porto de chegadas e partidas onde ao longo dos anos, fomos arribando, para nos percebermos, um pouco mais, enquanto companhia de Teatro. Adoro o Porto, sou de lá, sem o ser; sou um mouro intruso, que invariavelmente é bem tratado e destratado quando o mereço, quando me dizem na cara: "Foda-se: tu não fodes, nem sais de cima!" 

 É assim, tenho que me deixar de merdas no Porto, ser, como direi, prático, como a minha bisavó Lucinda que antes de morrer foi lavar a roupa, porque na morte o asseio é muito importante. A Outra Tempestade no Porto é uma oportunidade de encontrar amigos de longa data, gente que fez a Garagem. É matar saudades e reaprender o valor do trabalho árduo sem concessões ideológicas, nem preconceitos religiosos; é ser invicto de peito aberto e fechar os braços, com o rancor morto e enterrado. O Porto vai-se aprendendo, como um certo Portugal, de português suave liberto, para sempre. 
 
 Entretanto continuamos a trabalhar no Passos na Floresta, a Garagem renascida ; a nova geração de garagistas, atrevidos, loucos, rebeldes e selvagens. Sou o velho pirata Barba Branca rodeado de jovens artistas-corsários armados até aos dentes, de sementes daninhas, danadas e lindas. A nossa brutalidade de cristal, não vai deixar escapar nem uma só rosa! Vamos assassinar espinhos sem escrúpulos, vamos morder os calcanhares da angústia, arrancar o fígado da morte e erguer à lua, bem alto, os nossos cânticos de eleição.
 
 É assim em overdose de beleza que nos encontramos: pasmados, palermas, em gritaria de sorrisos, com peúgas giríssimas, a encantar serpentes de cordel, na senda de helicópteros em dança ruidosa. Ah, vem para aqui para o pé de nós, sabota o ensaio, protesta, vibra e ri! Estamos à tua espera, tens o meu telefone, sabes onde fica o Taborda, vai lá e faz eclodir a Floresta com os teus Passos trôpegos e a tua alergia à estupidez. 
 
 Estou a escrever a peça enquanto a faço e desfaço, enquanto a destruo e dou vida. As palavras que me emprestas-te no Facebook, estão a ser-me muito úteis! 
Vou devolvê-las com juros, que , entre gente séria, as promessas não podem ser vãs. Caramba, gosto desse teu jeito de te atirares sem medo na abordagem do navio inimigo! Com a faca nos dentes, cerra os punhos em novelos de lã! Que os deuses não te cobrem a passagem! 
 
 Mija nos deuses e corre nu pela proa da Floresta.

 
 
 
O Teatro da Garagem acolhe em fevereiro, nos dias 10, sábado, às 19h30, e 11, domingo, às 16h30, o espetáculo da companhia Pó e Batom, do CENDREV.

Trata-se de uma fantasia lírica de Esther F. Carrodeguas, a partir de duas conhecidas mulheres de Santiago de Compostela. Maruxa e Coralia Fandiño Ricart são duas irmãs que todos os dias cumprem escrupulosamente o mesmo ritual, saindo às duas em ponto para passear, vestidas e maquilhadas de forma garrida, repetindo percursos e enfrentando a cinzenta sociedade franquista que as marginaliza e maltrata, por serem de família republicana anarcossindicalista. Par inseparável que reinventa o sentido da vida, ora de forma cómica, ora ácida, resistindo e sobrevivendo em situação muito adversa. São galegas, mas reconhecemo-las em outros lugares e outros tempos, ao percorrermos a ponte que vai do particular ao universal, como pode acontecer quando temos nas mãos uma peça de teatro tão bela como esta.

Bilheteira: https://teatrodagaragem.seetickets.com/tour/po-e-batom-cendrev-centro-dramatico-de-evora

FICHA ARTÍSTICA E TÉCNICA

Autora: Esther F Carrodeguas
Interpretação: Ana Meira e Rosário Gonzaga
Tradução e encenação: Sofia Lobo Cenário,
Figurinos e adereços: Filipa Malva Música
Direção musical: Jarbas Bittencourt
Desenho de luz: António Rebocho
Operação som: Beatriz Sousa
Operação luz: Fabrisio
Canifa Tradução
LGP: Associação de Surdos de Évora - Núria Galinha
Fotografia e vídeo: Carolina Lecoq
Design gráfico: Alexandra Mariano
Execução de figurinos: Adozinda Cunha e Eliana Valentine
Execução de cenário: Serralharia Pedro & Pegacho, Lda
Comunicação e divulgação: Helena Estanislau
Direção técnica: António Rebocho
Direção de produção: Cláudia Silvano
Produção executiva: Beatriz Sousa
Apoio técnico da equipa do TGR: Ana Duarte, Margarida Mouro, Miguel Madeira, Paulo Carocho e Tomé Baixinho

Agradecimentos: Câmara Municipal de Évora, equipa do CENDREV - Centro Dramático de Évora, Vanesa Sotelo
Acolhimento: Teatro da Garagem
Apoios Câmara Municipal de Lisboa, EGEAC, Junta de Freguesia de Santa Maria Maior
Financiamento Direção-Geral das Artes, Governo de Portugal | Ministério da Cultura

Mais informações: Duração Espectáculo: 90 min
218 854 190 | 924 213 570
producao@teatrodagaragem.com