Síntese Final Sobre a Descoberta, no Ano de 2021, no Museu Nacional Grão Vasco (Viseu)... - Triplov INFO

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quarta-feira, 13 de março de 2024

Síntese Final Sobre a Descoberta, no Ano de 2021, no Museu Nacional Grão Vasco (Viseu)...

Conclusão da colaboração que desde Maio de 2021 havia sido prestada por Alfredo Pinheiro Marques e o CEMAR ao Estado Português, através do envio, ontem, 24.01.2022, para o gabinete de S.E. a Ministra da Cultura, da síntese final acerca do painel da "Adoração dos Reis Magos" do Museu Nacional Grão Vasco, Viseu (Inv. 2145), classificado como "Bem Cultural Móvel de Interesse Nacional ("Tesouro Nacional"):



SÍNTESE SOBRE O PAINEL DA ADORAÇÃO DOS REIS MAGOS, DO ANTIGO RETÁBULO DA SÉ DE VISEU, ACTUALMENTE CONSERVADO NO MUSEU NACIONAL GRÃO VASCO

(BEM CULTURAL MÓVEL DE INTERESSE NACIONAL, DITO "TESOURO NACIONAL")

O painel da Adoração dos Reis Magos, do antigo retábulo do altar-mor da Sé de Viseu (Museu Nacional Grão Vasco), é uma das obras de arte mais significativas de todos os tempos da Pintura portuguesa ou feita em Portugal no século XVI (da época dita "Manuelina"). Desde sempre vinha sendo considerado como emblemático para a História de Portugal e da Expansão Ultramarina Portuguesa. Mas, desde o ano de 2021, ainda o é mais. Vai ficar para sempre como a ilustração exemplar do alcance, planetário, da presença transcontinental portuguesa no mundo.

O bispo de Viseu em 1505-1519 (e antigo cosmógrafo dos "Descobrimentos Portugueses" no tempo do Rei Dom João II em 1481-1495), D. Diogo Ortiz de Vilhegas, no retábulo do altar-mor da sua Sé Catedal de Viseu — o retábulo que havia sido encomendado originalmente pelo seu antecessor, D. Fernando Gonçalves de Miranda (1501-1505), e que, depois, no seu tempo, veio a ser concluído em 1505-1506 —, mandou-se representar a si próprio, neste painel da Adoração dos Reis Magos (certamente datável do último dos anos da feitura de tal retábulo, c.1506), na posição tradicional de ofertante da obra, ajoelhado aos pés da Virgem e do Menino. A sua figura é identificável pelos emblemas das suas armas pessoais, presentes nos pormenores da sua indumentária (a estrela e as rosas), e pelas suas sandálias episcopais e cáligas vermelhas nos pés, indubitavelmente identificativas da sua dignidade episcopal nessa cidade de Viseu.
Mas, mais significativamente ainda, o Bispo cosmógrafo mandou representar os três Reis Magos sob a forma de três figuras que são extraordinariamente simbólicas e interessantes, bem ilustrativas desse tempo extraordinário que foi o da primeira década do século XVI em Portugal.

A primeira dessas figuras é a do próprio Rei português de então, o jovem Rei D. Manuel, o Rei do período das riquezas e prosperidades máximas portuguesas — na época da inauguração da "Carreira da Índia" através da "Rota do Cabo", e do encontro português do Brasil, e do auge do afluxo do ouro africano da Mina (que vinha sendo obtido pelos Portugueses no golfo de Guiné desde os reinados anteriores) —, o jovem Rei D. Manuel I, dito "o Venturoso", que havia iniciado o seu reinado em 1495, que havia mantido D. Diogo Ortiz de Vilhegas ao seu serviço e que, em Maio de 1505, o havia indicado para a Sé viseense (da qual, por isso, D. Diogo Ortiz tomou posse em Junho desse mesmo ano de 1505).
Tendo sido identificada a sua presença neste painel somente em 2021, o Rei D. Manuel I é, desde então, nele reconhecível pelas suas características fisionómicas, pela cor e o corte do seu cabelo castanho (muito típico, redondo sobre a sua testa), pela cor dos seus olhos, e sobretudo pela sua boina preta, extremamente característica por causa de ostentar uma determinada jóia, inconfundível (a mesma boina, e a mesma jóia, com que foi representado na célebre iluminura do Livro I de Além-Douro da "Leitura Nova", no Arquivo Nacional - Torre do Tombo).

A segunda figura — extraordinariamente exótica e, por isso, responsável pela fama que desde sempre havia tido na História da Arte portuguesa e europeia este painel do retábulo da Sé de Viseu — é a de um Rei Mago representado com os atributos de um ameríndio do Brasil (!). Talvez de etnia Tupiniquim, com a qual os Portugueses desde os inícios, em 1500, na viagem de Pedrálvares de Gouveia (Cabral), vinham sobretudo contactando, ou talvez de qualquer outra etnia da grande família linguística Tupi, que então povoava os litorais brasileiros. Com o seu cocar de penas e a sua flecha — e evitada a representação da sua nudez através do acrescento, na sua indumentária, de uns calções e uma camisa à maneira europeia (e também manilhas, colares, etc.) —, esta figura invulgaríssima, assim tão insolitamente incluída numa pintura de temática religiosa como esta, ficou para sempre como uma representação pioneira. Tem sido justamente considerada como provavelmente uma das primeiras, ou até talvez mesmo como a primeira, cronologicamente (e, sem dúvida, a melhor, pictoricamente), de todas as imagens de um ameríndio na Arte europeia e portuguesa do Renascimento.

A terceira figura de Rei Mago, representado entregando a sua oferenda neste painel do altar-mor da Sé Catedral de Viseu, é a figura do Rei negro Baltazar (sempre tradicionalmente presente neste tipo de pinturas da Adoração dos Magos); o qual, aqui, está luxuosamente vestido de vermelho, e com uma fisionomia através da qual se tentou representar um africano de idade, com o cabelo (em carapinha) e a barba encanecidos pelos anos, e também por isso de respeito.
Esta figura tradicional de Baltazar, neste painel, foi erroneamente identificada, durante muito tempo, em toda a bibliografia do passado, como sendo a figura de "São José" (!), que ali estaria alegadamente a receber a oferenda que lhe estaria já a ser passada para a mão pela Virgem, depois de esta já a ter recebido da mão do suposto "terceiro Rei Mago", ajoelhado.
Mas, como já se disse, desde 2021 ficou claro que essa figura ajoelhada não pode de maneira nenhuma ser um Rei, e é sim, sem dúvida, um Bispo, com as suas sandálias episcopais e as suas cáligas. É o Bispo de Viseu desse tempo, em 1505-1506, D. Diogo Ortiz de Vilhegas, o cosmógrafo que, no reinado anterior, no último quartel do século XV, havia tratado da aplicação da astronomia nascente à invenção da navegação astronómica (criada pelos Portugueses no golfo de Guiné, a partir da sua base naval no castelo da Mina, onde também comerciavam o ouro africano). O mesmo homem que, depois disso, ao longo dos anos seguintes, após a conclusão deste retábulo do altar-mor da sua Sé em 1506, mandou também povoar de estrelas a abóbada inteira dessa sua catedral de Viseu (a abóbada que então ele próprio estava a começar a mandar construir, e que, por isso, veio a ficar pronta em 1513, e veio a ser por si inaugurada em 1516).
Esta figura de um africano de idade, entregando a sua oferenda, luxuosamente vestido de vermelho, neste painel da Sé de Viseu, não pode, de facto, ser um São José. A impossibilidade dessa identificação fica também clara quando se atenta no facto de que neste mesmo retábulo do altar-mor da Sé de Viseu existem outros três painéis em que se encontram representados o rosto e a figura do verdadeiro São José de tal retábulo (os painéis da "Natividade", da "Apresentação no Templo", e da "Fuga para o Egipto"), e esse São José verdadeiro, sempre o mesmo em todos eles, tem um rosto e uma figura completamente diferentes do rosto e da figura do Rei africano que está presente na "Adoração dos Magos". Nesses outros três painéis, não é um africano (com cabelo em carapinha), e é um homem mais novo (com o cabelo e a barba não encanecidos pela idade, e de cor castanha ou arruivada). Tem sempre as mesmas feições do rosto (em todos eles), e são absolutamente diferentes das visíveis no painel da "Adoração".
Esta figura de vermelho entregando a sua oferenda na mão da Virgem é certamente um Rei africano, e poderá ali simbolizar o abundante ouro então trazido para Portugal do golfo de Guiné (do castelo da Mina, no actual Gana, construído para a Coroa de Portugal, em 1482, pelo cavaleiro Diogo de Azambuja, de Montemor-o-Velho, por ordem do Rei anterior D. João II).

Entre as oferendas entregues nesta espantosa Adoração dos Magos, portuguesa, de c.1506 — a qual, desde 2021, se pôde melhor compreender que tem um significado verdadeiramente planetário e intercontinental (no autêntico sentido da palavra), nos inícios do século XVI  —, a oferenda mais surpreendente é com certeza a do ouro (amoedado em forma de um "cruzado" português) que se vê nas mãos do próprio Menino Jesus (!), por lhe estar a ser ali oferecido.

É possível que neste célebre painel do Museu Nacional Grão Vasco em Viseu, proveniente do altar-mor da Sé viseense, de c.1506, exista também uma outra representação que poderá ser muito enigmática, a qual, por parte do Bispo cosmógrafo (ou do pintor ou pintores ao seu serviço), lá tenha sido deliberadamente deixada: a cobertura de cabeça, em forma de boina bicorne, também ela com uma coroa estilizada, que está colocada em primeiro plano, aos pés do Menino Deus. Pertencendo-lhe, ou sendo-lhe oferecida. Pois esta outra boina, também ela regiamente decorada, é muito parecida com a da imagem mais tradicional do Rei anterior português, o "Príncipe Perfeito" Rei Dom João II, desaparecido em 1495, que o novo Rei D. Manuel e o Bispo D. Diogo Ortiz bem conheciam, por o haverem servido durante muitos anos.
Essa possível presença, ali, do ausente (ou da sua sombra) é muito intrigante. 

ALFREDO PINHEIRO MARQUES, 22.01.2022

MARQUES, Alfredo Pinheiro,  O Verdadeiro Rosto do Jovem "Rei Venturoso", Revelado aos Portugueses, 500 Anos Depois (12.05.2021) [Memorando Enviado ao Estado Português - Ministério da Cultura]

MARQUES, Alfredo Pinheiro,  "O Atlas Feito para Tentar Contrariar a Viagem de Fernão de Magalhães - Segunda Parte", Revista da Armada, Lisboa: Marinha Portuguesa, nr. 563, Junho, 2021, pp. 23-26.

Conferência de Alfredo Pinheiro Marques (CEMAR) no Museu Nacional Grão Vasco, em Viseu, em 13 de Dezembro de 2021, no dia da efeméride dos 500 anos da morte do Rei Dom Manuel I

MARQUES, Alfredo Pinheiro, O Retrato Coevo do Rei Dom Manuel I — Identificação, Agora, em 2021, do Rosto e da Figura do Rei Mais Célebre, na Pintura Mais Célebre do Séc. XVI Português (e Hipótese de Haver Nela Algo de Ainda Mais Significativo e Inesperado), Figueira da Foz do Mondego: Centro de Estudos do Mar - CEMAR, 2021 (Dep. Legal: 492702/21 (Portugal) - ISBN: 978-972-8289-61-4)
MARQUES, Alfredo Pinheiro,  SÍNTESE SOBRE O PAINEL DA ADORAÇÃO DOS REIS MAGOS, DO ANTIGO RETÁBULO DA SÉ DE VISEU, ACTUALMENTE CONSERVADO NO MUSEU NACIONAL GRÃO VASCO - BEM CULTURAL MÓVEL DE INTERESSE NACIONAL, DITO "TESOURO NACIONAL" (24.01.2022) - [Memorando Enviado ao Estado Português - Ministério da Cultura]



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