SASPORTAS O mundo uma pátria para senhores e escravos. Os escravos não têm pátria cidadão Debuisson. E enquanto houver senhores e escravos, não estamos desligados da nossa missão. Heiner Müller, A Missão A Missão – memórias de uma revolução é um texto maior do que qualquer um de nós. Tem a força de uma interrogação que lançamos para o mundo. Desestabiliza-nos como um enigma. É um texto feito da matéria de que são feitas as grandes obras – e, por isso, dialoga intimamente com o nosso presente. Neste texto está a Revolução Francesa, a Revolução do Haiti e a Revolta de escravos na Jamaica, mas também a invasão da Ucrânia pela Rússia e o conflito na Faixa de Gaza. Neste texto está a legitimidade de se assumir certas lutas, tomar certas decisões, e representar certas peças. A Missão é um texto maior do que qualquer um de nós, e é a isso que a encenação colectiva do Teatro da Cidade procura responder. Numa peça cheia de ambiguidades e que não se mostra como tendo uma forma certa de pôr em cena, este espectáculo é sobre o confronto com a nossa própria incapacidade de enfrentar as missões que mudariam o mundo, e ao longo da vida, por cansaço, condição ou condicionamento, quase nunca por convicção, as deixamos escapar. Müller dá-nos por palavras, cheio de perigo, o terreno da inércia, da superficialidade, da mera sobrevivência. Num texto que já não é didáctico, mas um encontrão. |