Dar mais espaço ao espaço público, ao que nos é comum - Triplov INFO

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sexta-feira, 7 de junho de 2024

Dar mais espaço ao espaço público, ao que nos é comum

Hugo Marques
Equipa Cidadania Global e Desenvolvimento

Há 10 anos, iniciei um percurso profissional com a FGS integrando uma equipa que tinha como objetivo trabalhar a partir da proposta político-pedagógica da Educação para o Desenvolvimento no sentido de, coletivamente, se pensar e caminhar para o Bem Comum. Foram 10 anos em que conheci muitas pessoas e instituições, fiz muitas amizades e muitas aprendizagens significativas, resultado de um trabalho continuado de uma equipa solidária, comprometida e crítica. Nestes 10 anos, fui também cruzando esta experiência feita em contexto de trabalho com experiências de participação cidadã, ativista, em contextos mais pessoais e informais. 

Num momento contextual onde os movimentos sociais, organizações da sociedade civil e outros coletivos se vão posicionando sobre assuntos "difíceis" - como por exemplo: conflitos armados continuados em várias geografias, opressões sistémicas e sistemáticas, a emergência climática que nos vai apartando cada vez mais de um futuro possível - é no cruzamento entre estes dois "universos" (a ED e os processos ativistas) que vou "extraindo" algumas pistas sobre os passos a percorrer no sentido de discernir possibilidades de um "mundo melhor". Mas para isso é preciso tempo e espaço para pensar e agir criticamente e em coletivo.

É exatamente na necessidade de tempos e espaços para pensar que surgem as maiores tensões quando se trata de agir para a transformação social. As mudanças dos contextos sociais, económicos, políticos são rápidas e nem sempre trazem boas notícias no que diz respeito aos direitos humanos, à qualidade de vida e aos equilíbrios ecossistémicos. As urgências de resposta deixam pouco tempo e pouco espaço para pensar. Mas no exercício de uma cidadania participativa, é fundamental parar para pensar no que que se está a responder e como se responde. Nos últimos tempos, em diferentes contextos, surgiram-me várias questões no que diz respeito ao diálogo entre a ação ativista e processos de pensamento crítico.. Será que a ação a partir de movimentos ativistas faz o seu percurso co-habitando com processos de aprofundamento e de pensamento crítico? Para esta ação é necessário ter uma mensagem forte, que possa influenciar decisões, expor situações de injustiça e motivar o envolvimento de mais pessoas. No entanto, será que são valorizados (ou mesmo se serão possíveis) os espaços para parar, pensar na complexidade e nas interligações e aprofundar as raízes dos problemas? E o contrário? Será que para a utilização do pensamento crítico enquanto ferramenta de transformação social, ética e comprometida com o bem comum, não será necessário ser ativista, estar no terreno, dialogar, reivindicar e estar ao lado de outras pessoas que partilham o sentido de urgência? 

O espaço público na cidade e a luta pela sua valorização foi sendo o meu (o nosso) espaço de experimentação e de equilíbrio entre processos urgentes e processos importantes. Temas de "luta" como a mobilidade descentrada do transporte privado (carros), espaços de convívio e lazer nos bairros ou ruas onde as crianças possam brincar, informais e não monetizados foram fornecendo motivação e foco quando, nos dias que correm, é tão difícil manter motivação e foco. 

Cuidar do espaço público é então preservar a capacidade de pessoas se relacionarem umas com as outras e com os ecossistemas que as rodeiam. O espaço público enquanto lugar político de encontro, de tensões, de ideias diferentes, de polarização mas fornecendo hipóteses de consertação. Entre as inúmeras agendas, cuidarmos daquilo que é comum passa então a ser uma tarefa demorada, muito exigente, difícil, carregada de incoerências pessoais e coletivas, mas seguramente mais significativa.

Não sei o que nos reservam os próximos 10 anos, mas proponho que experimentemos (inclusivamente no trabalho da FGS) dar mais espaço ao espaço público, ao que nos é comum. Ao conhecimento, às relações, às praças e às ruas onde brincam crianças, aos jardins onde se descansa e namora, ao convívio entre diferentes perspetivas e pessoas.

No fundo e para concluir, à verdadeira construção de novas possibilidades.
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