Têxteis do Paraguai: A tradição que empodera mulheres - Triplov INFO

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sexta-feira, 7 de junho de 2024

Têxteis do Paraguai: A tradição que empodera mulheres

É sobre sustentabilidade ambiental e empoderamento das mulheres no seio das suas comunidades de origem que nos fala a exposição "Têxteis Extraordinários do Paraguai", que pode ser vista na Casa da América Latina, em Lisboa, até 23 de agosto. Realizada em colaboração com a Embaixada do Paraguai em Portugal e o governo daquele país, a mostra dá a ver ao público português uma tradição cultural centenária relacionada com a produção de tecidos, rendas e bordados feitos exclusivamente à mão, em várias regiões e culturas daquele país sul-americano. 

Como nos diz o embaixador em Lisboa, Júlio Duarte Van Humbeck: "Esta exposição é como uma viagem ao país profundo, ao seu interior, que convida quem a vê a visitar lugares encantadores, cheios de natureza e a interpretar cruzamentos interculturais, que tornam únicas as peças têxteis expostas, de singular beleza artesanal, com diferentes técnicas e matérias-primas. Destaco, antes de mais, o trabalho criativo e a habilidade inata das mulheres paraguaias e das mulheres dos povos indígenas que habitam o nosso país."

Esclareça-se que, ao falarmos de povos indígenas, referimo-nos aos Ayoreo, Nivaclé e Manjui que vivem no Chaco Paraguaio, e que fabricam peças têxteis com as cores características de cada etnia. Esta é, pois, uma história de sustentabilidade ambiental já que, em momento algum da produção das peças expostas, há recurso a matérias-primas ou a procedimentos que prejudiquem o equilíbrio ambiental. Na breve visita guiada que fez ao DN, Andrea Vásquez, do Instituto Paraguaio de Artesanato, refere-se, por exemplo, à importância que o algodão assume num pais de clima quente como é o seu: "São estas mesmas mulheres que o cultivam, mas é um algodão diferente do existente noutras latitudes: Cresce em grandes árvores, como é o caso do algodão vermelho, que tem uma cor mais térrea do que o branco tradicional." Mas há ainda outros produtos muito utilizados como os paus santos verdes ou as tintas, também muito presentes no vizinho Brasil. Até os pigmentos usados na coloração são produzidos com elementos inteiramente naturais. 

https://asset.skoiy.com/dncxpgxxypnfpero/cclgrvkikp3y.jpgReinaldo Rodrigues/Global Imagens

De comunidade para comunidade, de distrito para distrito, as formas, os temas representados e os pontos empregues podem mudar, mas, como salienta Andrea Vásquez, o que une esta tradição é o poder que ela confere às mulheres: "Podemos dizer que 99% da mão-de-obra é constituída por mulheres, que trabalham em suas casas, sozinhas ou com outras mulheres. Isto permite a muitas delas terem o seu próprio dinheiro, o que é muito importante, até porque há muitas que são cabeças de famílias monoparentais." Mas não se pense que os homens estão excluídos da divisão de tarefas no setor:  "Em caso de matérias-primas mais pesadas, como a lã, são eles que as trazem às artesãs e depois são eles que saem para vender, sobretudo em meio urbano, quando o comércio é feito em feiras."

Entre as peças apresentadas nesta há um pouco de tudo, desde utensílios usados na pesca a suportes para transporte de bebés, passando por muito apetecíveis camas de rede. Algumas são decoradas com motivos figurativos (como as mensagens pela paz que encontramos em vários trabalhos, mas também muitas representações de fauna e flora), outros são mais abstratos, mas, como nota Andrea Vásquez, muitas destas artesãs já são procuradas por criadores de moda e convidadas a colaborar com projetos mais contemporâneos. Neste caso, a missão do Instituto do Artesanato é zelar para que a tradição não seja desvirtuada.

https://asset.skoiy.com/dncxpgxxypnfpero/qpngo5tlumpe.jpgReinaldo Rodrigues/Global Imagens

Com pouco menos de 7 milhões de habitantes, o Paraguai alimenta a fusão de culturas que forma a sua identidade. Prova disso é o bilinguismo que perdura até hoje, já que mais de 80% dos paraguaios falam espanhol e guarani (ambas são línguas oficiais), e muitos falam Jopara, que é uma mistura dos dois idiomas.

Recorde-se ainda que bem recentemente uma peça de vestuário típica do Paraguai, o Poncho Para'i de 60 listas foi reconhecido pela UNESCO como património imaterial da humanidade devido à sua longa história e significado cultural para o país. Este tipo de poncho é um produto tradicional da arte têxtil paraguaia, sendo usado em diversas cerimónias e celebrações de grande simbolismo.

Anteriormente, a Casa da América Latina já apresentara exposições sobre os têxteis do México, Panamá e Peru.