Apesar de, como qualquer mortal, ter tido bons e maus momentos, Mário Soares é uma daquelas figuras que marcam, não por ser quem foi, um político, um preso político, um exilado, um torturado pela PIDE, um combatente e um resistente, mas sim pela sua capacidade de escolher o caminho certo, as palavras certas e as pessoas certas. Parece-me que se trata de uma figura inteligente, culta, sensível para escolher o momento decisivo, as palavras decisivas e as acções decisivas no tempo certo. Poderíamos dizer que as conjunturas fizeram dele um ícone. No entanto, não sei se algum dos políticos contemporâneos dele teriam tido tanto sucesso e tanta intervenção pública.
Na verdade, foi uma pessoa que conviveu com as grandes figuras do século XX, numa época em que isso não estaria ao alcance de muitos. Esforço dele e da sua vida activa. Fundou um partido no exilio, na Alemanha, o PS… ele e tantos outros. Voltou, depois de ter sido, em tempos, preso e, em parte, torturado pela policia política… em fim…
Mário Soares já é uma inspiração. Nos 100 anos das comemorações do seu nascimento, no ido ano de 1924, o que fica é a esperança que apareçam políticos e dirigentes que possam, pelo menos, acumular 5% das capacidades, cultura, conhecimentos e sensibilidade do Mário Soares. Até agora, a bruma é imensa, os que aparecem e os que governam nos dias de hoje, não passam de uns incompetentes, incultos, brutos, mal-educados, nalguns casos, insignificantes do ponto de vista político e social…. Saídos de um qualquer caixote do lixo… em fim.
Saudades de políticos a sério, políticos com sensibilidade e verdadeiros estadistas, homens e mulheres com uma visão de longo prazo, liderança inspiradora, ética e integridade, habilidade diplomática, compromisso com o bem comum e o conhecimento e a familiaridade com os desafios nacionais e internacionais.
Contudo, tenho as minhas dúvidas que a sociedade aclame por este tipo de pessoas. O chamado estadista já não parece interessar. As redes sociais e as manipulações e fakenews manipulam as mentes frágeis e fazem crescer o chamado anti-estadista, o anti-culto, o anti-sensível, o anti-político. Como ocorre em Portugal e noutros locais, a revolta das pessoas pela sua condição social, pelos elevados impostos, pela justiça precária e lenta, pela saúde em crise, pela inflação, pelas guerras, etc… faz com que uma parte dessa população coloque um conjunto de anti-estadistas no parlamento. Será que somos assim tão ingênuos que não consigamos diferenciar um fala-barato, um macaco de imitação, um grupo de arruaceiros, uns mal-educados e uns corruptos disfarçados de "decentes" na casa da democracia…? Será que a democracia já não tem valor ou significado…?
Mário Soares: "Só é vencido quem desiste de lutar"
Gerardo Vidal Gonçalves / Facebook
