CARTA DE DEZEMBRO DE CARLOS J. PESSOA FELIZ NATALINHO, QUE É UM NATAL EM TORVELINHO! O que é que é fundamental fazer? Em Dezembro, véspera de Natal, novo ano e aiai, aiai? Que escolhas? Que presentes e ausentes? O que vemos do futuro? O mundo estará sempre em turbulência; faz parte da natureza das coisas. O vento continuará sempre a uivar pelas frestas das janelas. E o frio aperta no inverno. Neste inverno do nosso descontentamento e do nosso Fausto, que espectáculo do caraças (!), há que encontrar em primeiro lugar as bases de trabalho, que Goethe nos dá, para o contentamento. Béque tu da basiques! Aprender a ler e a escrever, debruçar, isso (!) fazer bem o movimento de se debruçar, sobre os mitos antigos, sobre as lições bíblicas, as parábolas, os ensaios do Alberto Velho Nogueira! Saber a etimologia das palavras chave para que elas, as palavras, abram as portas que interessam e fechem as portas, que não interessam. Não tentar doutrinar o espectador; não lhe dar lições; convidá-lo para o conhecimento, com espectáculos. Espelhos de boa feição que permitam ver, ouvir, apalpar, comer, mergulhar e retornar à superfície. Temos pois que ter a noção que não somos extraordinários e únicos, que vivemos tempos extraordinários e únicos; que mais importante que a nossa vaidade, é o serviço, porque outros tempos virão. Termos a serenidade de nos sabermos transitórios e por isso responsáveis por transmitir o que nos foi legado: as malas de ferramentas, as visões e os sonhos. Sabias que confusão é também fusão, fundir coisas opostas, contraditórias, que nos assustaram tanto tempo? Porque os preconceitos dos outros se tornaram os nossos preconceitos; porque nunca temos paz nem certeza? E a cada dia surge mais uma merda que não estava prevista? Sabias isso? Sabias que da confusão pode nascer um líquido espesso, o mel da tua vida? Ou o xarope de agave se tiveres problemas com a dieta? Termos isso muito claro, da cabeça aos pés: que não temos medo do escuro, que é no escuro que vamos encontrar as chaves que perdemos; que precisamos de inventar novas palavras, que novas palavras anunciam vida nova. Que a vida nova acontece na mudez , nesse instante flagrante em que dizemos sim, sim, sim... Não vou ser medíocre, não me vou render à mediania, à convenção do "mais ou menos"; do "porreiro pá", do 54 e do 29; dessa superficialidade horrível dos seguidores dos "grandiosos outros", que são só espertalhões oportunista e sem espessura. Eh pá, deixem-se de ganância, de se porém em bicos dos pés, de serem velhos , de não perceberem a diferença entre velho e antigo! Vou seguir as nuvens como Fausto, vou comer a terra, beber as novas paisagens reveladas pela poluição, entretanto tornada habitual , com o seu quê; com o seu fascínio de ruínas! O que não é nada ruim! Vou pulular e ser fatia de fiambre: da civilização , da cultura, do território, do humano e do telemóvel. Vou-me IAzar ( como o Yazalde, antigo avançado do Sporting), vou cazar, como um cazaque da estepe, a inteligência que de artificial me torna natural, mente outra, outro. Outro, nos dias diferentes em velocidade catatónica, até à suspensão como partículas numa solução pedológica, estratificação do terreno, vertical! Outro, nos quilómetros, biliões, horizontais , tornados pés novos, pés grandes, calças gigantes, terras raras, rarefeitas , pim pam pum: oblíquas. Tudo em forma de algodão doce, algoritmo doce, feira de infância , até bater na aldraba da porta da quinta: pum pum pum, onde moram os avós. É preciso entrar na realidade virtual e revelar a realidade nevrótica dos dedos em chamas; da infecciosidade e da cura; é preciso complicar meu Deus, porque só a complicar , se simplifica! Se percebe: "ah, então só isso, sim, só precisas de ajuda para a, b ou c!" "O que há a fazer, toma atenção, é 1, 2, 3 ou 4!" " E também 5 é 6. De 12 em 12 horas. Lembra-te!" Virar o bico ao prego! E tanto que há em 2,3, ou 4 , 12, 12, tanto, 7, 11, tanto! Complica, complica! Que cada quilómetro demonstra a fractalidade, a semelhança, o padrão; a nova geometria; a expansão quântica, a realização contra intuitiva que me devolve a intuição. Sim, complica , que somos mágicos, como Maradona! Fazemos feitiçaria como Aretha Franklin spelling, spelling, enfeitiçando com aquela ária: nêssune dóórmá ! Temos o dom de afectar o futuro, de acalmar as dores, de serenar o distúrbio psicológico, de proporcionar uma boa conversa e um colo para adormecer. Vamos fazer festas nas vossas cabeças, tantas festas! Para que façam festas, festinhas, cafoné, nas cabeças dos outros. Vamos começar pelas vogais, atrevermo-nos pelas consoantes, dizer palavras abertas, fechadas, retorcidas, esquisitas, complicadíssimas! Grunhir! Amolecer e pôr de parte o comodismo mais aquela coisa bururu, a palhaçada dos iluminati, a treta desconchavada. Do coisinha que coisinha a coisinha e coiso. Em vez de coiso, coito! Ri-te! Pândega! Vamos fechar as luzes para encontrar a razão, porque os holofotes cegam e ninguém vê. Feliz Natalinho que é um Natal em torvelinho! | | CINE-CONCERTO DE MULHERES DA BEIRA DE RINO LUPO COM A CANTANDEIRA Na sexta-feira, dia 6 dezembro às 21h30, acolhemos a 8ª edição do Salão Piolho, o o cine-concerto de ´Mulheres da Beira de Rino Lupo com A Cantadeira`. Entrada livre M/6 1923 | Portugal | 83 min. Com: José Soveral, Branca de Oliveira, Joaquim Almada, Sarah Cunha |Legendado em português Cópia digitalizada pela Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema "Arouca. O trágico devaneio de Aninhas, uma jovem e bela camponesa que, por sonhos de riqueza e fascínio amoroso, repele o afeto de André, um rústico contemplativo. Enredada pela sedução do Fidalgo da Mó, é eventualmente desprezada…" José de Matos-Cruz Aninhas, filha de um moleiro, é enviada diariamente para vender pão em Arouca, uma pequena vila. No caminho, ignora o amor do pastor André e, ao chegar à vila, encanta-se com o luxo e a sofisticação dos fidalgos. Em uma dessas viagens, Aninhas é seduzida pelo Fidalgo da Mó e foge com ele para o Porto, onde experimenta o esplendor da cidade. No entanto, o fidalgo rapidamente a abandona por outra amante, Clara d'Orsay. Sobre A Cantadeira… Joana Negrão, conhecida por sua ligação à música de tradição oral portuguesa, desde os Dazkarieh aos Seiva, traz à vida o espetáculo "A Cantadeira". Inspirada pelas vozes das mulheres de antigamente e de hoje, Joana apresenta uma performance a solo, onde a voz é o fio condutor. Através de camadas de vozes sobrepostas e gravadas ao vivo, A Cantadeira envolve o público em paisagens sonoras que combinam o passado e o presente. | | DONA PURA E OS CAMARADAS DE ABRIL Este mês acolhemos também, no Teatro Taborda, a companhia Saaraci Coletivo Teatral, com o espetáculo 'Dona Pura e os Camaradas de Abril'. Dias 14 e 15, sábado às 21h e domingo às 16h30. 25 de abril - um vetusto regime ditatorial é derrubado, entre muitas flores e poucos tiros. Um homem vagueia pelas ruas de uma Lisboa que mal conhece, na busca inglória da efervescência da revolução. Um grupo de amigos comemora o 25 de abril no dia 25 de setembro. O anfitrião, Natal, reconstrói, criativamente, os acontecimentos, de forma a enfatizar o seu próprio envolvimento na revolução. Um grupo de estudantes africanos trava uma gloriosa luta para manter a ocupação da Casa de Macau. Sob a sombra do poder colonial, a menina Purificação é raptada por um poderoso da terra, despojada de seus laços e seu passado, submetida aos desejos de um "reizinho" - o administrador do concelho, simultaneamente presidente da câmara, juiz municipal, chefe da polícia e o que mais quiser ser. No palco os eventos sucedem-se violando a cronologia sequencial, qual peças de puzzles de memórias paralelas, em distintos horizontes temporais, que se convergem em torno de cravos e liberdade. FICHA ARTÍSTICA E TÉCNICA Texto: Original Germano Almeida Dramaturgia: Caplan Neves Encenação, Espaço Cénico e Direção Artística: João Branco Interpretação: Pedro Lamares, Matísia Rocha, Manuel Estevão e Sócrates Napoleão Direção Musical: Sócrates Napoleão Direção de Movimento e Figurinos: Janaina Alves Música Original: Miss Universo Efeitos Sonoros: José Prata Cenografista: Manuel Estevão Desenho de Luz: César Fortes Design Gráfico: Nuno Miranda e João Branco Fotografia de Cena: Pedro Sardinha (FITEI) Apoio à Residência de Escrita: Associação Caboverdiana de Lisboa Apoio à Residência de Criação: CRL Central Eléctrica, Armazém22 Apoio à Criação de Figurinos e Cenografia: Teatro do Noroeste / CDV Produção: Saaraci Coletivo Teatral Produção, difusão e promoção: Companhia Nacional de Espetáculos Apoio: República Portuguesa – Cultura / Direção-Geral das Artes e Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril | | | | |
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