Há alguns anos conheci, através de um caro amigo no Japão. a brilhante coreógrafa japonesa Hanako Atake, que vive e trabalha em Tóquio. Ela viveu e trabalhou durante anos em Londres e na Holanda. Nunca nos encontramos pessoalmente, ainda. Conheci o seu trabalho pelos vídeos que me enviou, pela sua brilhante trajetória e pelas ideias que dela percebia.
Há algum tempo decidimos criar algo juntos, mas - como sempre faço, e também John Cage ou Merce Cunningham o faziam - tudo acontece de forma totalmente independente, seguindo o pensamento do dramaturgo francês Antonin Artaud: uma obra jamais deve ilustrar outra. Quando juntamos duas obras independentes, o resultado é sempre muito interessante.
Essa postura, para além de sempre ter estado presente nos meus trabalhos, mesmo muito antes de conhecer o John Cage, também reflete uma forte posição filosófica: cada um de nós é um fabuloso universo.
Este trabalho é sobre dois elementos fundamentais, tão relevantes e tão presentes nos nossos dias: identidade e liberdade.
Se, eventualmente, alguém tiver dificuldade de baixar os textos, posso enviar por email. Por favor, digam.
Para além da identidade e da liberdade, há outro elemento central neste projeto, como acontece em muitos outros dos meus trabalhos: o tempo. Katachi é de natureza contemplativa, profundamente reflexiva. Então, aqui temos a articulação dos números 2 e 3 - e há uma atenta descrição disso no texto.
Trata-se de um momento de livre pensar - particularmente caro àqueles, como nós, que amam a arte, a ciência, a dança, a arquitetura, os livros, o cinema, a cultura... num mundo cada vez mais voltado para a ausência do pensamento, para a burocracia em todas as suas vertentes, até mesmo mentais, para o tempo breve em curtos filmes e músicas para telefones portáteis, um momento histórico de eliminação da memória, dos discos, cds, livros, dos DVDs tornando tudo efêmero, plástico, nuvem, sem a dimensão humana.
Reitero aqui os meus agradecimentos à Hanako Atake, a quem o projeto é dedicado e a cujo trabalho muito admiro. Katachi é feito em memória de dois muito queridos amigos: Takehisa Kosugi e Katsuhiro Yamaguchi.
Espero que gostem.
Tudo de bom a todos,
Emanuel