No passado dia 20 de outubro o IPMA nomeou a tempestade extratropical Bernard, de acordo com os critérios em vigor para o efeito, tendo em vista chamar a atenção da população e dos meios de comunicação social para a prevenção e a salvaguarda de vidas e bens em situação de risco, em articulação com a estrutura de Proteção Civil. Esta tempestade veio a ter impacte nos arquipélagos dos Açores e Madeira e, em particular, no sul do território do Continente, onde ocorreram precipitação e vento forte em diversos locais.
A previsão da incidência dos diversos fenómenos meteorológicos associados a este tipo de sistema requer um conhecimento tão rigoroso quanto possível da sua trajetória. Entre as áreas com maior probabilidade de virem a ser afetadas por vento forte durante a fase de maior cavamento da perturbação contam-se, habitualmente, as que se encontram nas proximidades do respetivo núcleo, o que torna particularmente sensível e relevante a sua monitorização.
Foi possível seguir esta tempestade, no decurso da sua propagação, com recurso a observações dos radares meteorológicos da Terceira/S. Bárbara (TRC, Açores), Porto Santo/P. Espigão (PST, Madeira) e pelo radar espanhol de Sevilha, neste último caso ao abrigo do Programa OPERA, da EUMETNET. O radar de TRC observou a tempestade no dia 20 de outubro (Figura 1), o de PST no dia 21 (Figura 2) e o de Sevilha no dia 22 de outubro (Figura 3), consoante o posicionamento da depressão.
É interessante seguir a evolução que esta tempestade foi revelando ao longo do tempo, quando se encontrava na área de cobertura de cada um dos sistemas de radar mencionados, designadamente pelas animações disponíveis de TRC (Figura 4), PST (Figura 5) e Sevilha (Figura 6).
À aproximação da tempestade Bernard ao sul de Portugal continental verificou-se que o núcleo se situou sempre sobre o mar (Figura 6) e que os valores de vento máximo instantâneo (rajada) mais fortes foram sendo observados em locais situados nas proximidades do mesmo, à medida que a depressão se ia propagando de oes-sudoeste para es-nordeste. A título exemplificativo, foram observados 25.3 m/s (91 km/h) no SIO (Sistema Integrado de Observação) do aeroporto de Faro às 14:30 UTC, 24.9 m/s (90 km/h) na estação de Olhão (IPMA) às 15:20 UTC, e 30.3 m/s (109 km/h) na estação de Castro Marim (IPMA) às 16 UTC. Noutros locais do território poderão ter sido alcançados valores de rajada com magnitude superior às referidas. Na vizinha região da Andaluzia (Espanha) foi também observado vento muito forte nas proximidades do núcleo da tempestade, havendo registo de rajada superior a 110 km/h em diversos locais.