Teatro Meridional expõe diferentes faces do «Al_Gharb» no Cineteatro Louletano. Nova peça estreia no sábado, dia 4 de outubro.
A nova criação do Teatro Meridional, «Al_Gharb», que se estreia no sábado, no Cineteatro Louletano, em Loulé, é um espetáculo que contempla dois tempos e duas estações do ano, aliando contemplação à agitação do Algarve turístico.
«É um espetáculo contraditório, de opostos, de luz e sombra, contemplação e de pulsar musical, com um beat muito contemporâneo e até agressivo», disse à agência Lusa Miguel Seabra, responsável pela encenação e pelo desenho de luz.
«Al_Gharb» é uma peça que «contempla dois tempos, duas estações e duas épocas do ano, que junta a contemplação, a alma e a paz com uma agitação em excesso, uma invasão tipo Rossio à hora de ponta», onde pontuam as gentes do mar, do interior e do litoral algarvio, todas com a sua pronúncia característica de «môces marafades», acrescentou Miguel Seabra.
Produzida pelo Teatro Meridional, o Teatro das Figuras e o Cineteatro Louletano, a peça fará depois carreira no Meridional, em Lisboa, de 09 de novembro a 17 de dezembro, com sessões de quarta-feira a sábado, às 21h00, e, ao domingo, às 16h00.
Incluída no projeto «Províncias», «Al_Gharb» incide sobretudo sobre a zona do Sotavento, que começa em Loulé, englobando também os concelhos de São Brás de Alportel, Faro, Olhão, Tavira, Alcoutim, Castro Marim e Vila Real de Santo António.
Os espetáculos do projeto «Províncias», marcados pela não existência de palavra como forma principal de comunicação, embora do ponto de vista cénico possa haver texto com palavras numa incidência mínima, baseiam-se, sobretudo, no movimento, na gestualidade e na interpretação física dos atores, acompanhados sempre por uma paisagem sonora integral, que pode ser tocada ao vivo ou gravada, como é neste «Al_Gharb»,
Iniciado há 20 anos, em 2003, com «Para além do Tejo», que incidiu sobre o Alentejo, o projeto «Provínciais» já incluiu os espetáculos «Ilhas» (Açores), «Por detrás dos montes», sobre Trás-os-Montes (2006) e «Ca Minho», sobre o Alto Minho (2019).
O projeto inclui ainda uma produção mais urbana sobre Guimarães, «Por causa da muralhas nem sempre se consegue ver a lua» (2012).
Os espetáculos contam sempre com pesquisa dramatúrgica, sociológica, cultural, antropológica e política da responsabilidade da encenadora e atriz Natália Luiza.
«Al_Gharb» é um espetáculo subjetivo, uma interpretação do território por uma companhia de teatro de Lisboa, em que sobressaem duas épocas diametralmente opostas: o outono/inverno, onde o Algarve é habitado quase só pela população local, e a primavera/verão, marcada pela invasão turística «abissal» do território, que em época normal do ano é «habitado por cerca de meio milhão de pessoas e em que a população triplica na época alta», acrescentou Miguel Seabra.
As diferenças de densidade populacional e desenvolvimento cultural e social entre o interior e o litoral, as migrações, o frenesi no Aeroporto de Faro, a falta de cuidado e o aumento exponencial de edificação no litoral, são algumas das realidades do Algarve mostradas no espetáculo do Meridional.
A nível cénico, «Al_Gharb», onde não falta o corridinho, é ainda marcado pelo contraste luz/sombra e pela efemeridade de relações pessoais inerentes às «invasões sazonais» características do território.
Na peça não faltam ainda ecos da situação mundial, como o Brasil de Jair Bolsonaro, a invasão do Capitólio, de Donald Trump, nos Estados Unidos, a guerra na Ucrânia e o atual conflito israelo-palestiniano que Miguel Seabra considera «de loucos».
A interpretar estão Ana Santos, Emanuel Arada, Nádia Santos, Patrícia Pinheiro, Paulo Mota e Tiago Barreiros, enquanto o espaço cénico e os figurinos são de Hugo F. Matos, e a música original e o espaço sonoro são de Pedro Salvador.