Especializada em poesia e teatro desde 2003. | Olhos a arder de êxtases de amor, Boca a saber a sol, a fruto, a mel: Sou a charneca rude a abrir em flor! excerto de Charneca em Flor Florbela Espanca | E chegou Dezembro! Mês do Natal, de presentes para os nossos mais queridos, de doçaria tradicional, carinho, amor e solidariedade (isto para lembrar os mais esquecidos). Haverá melhor presente que um livro?! Temos a certeza que vais encontrar o teu novo livro preferido, e que será o presente ideal este Natal! Temos muitas novidades para este mês de Dezembro! A Poetria, que este ano celebra os seus 20 anos, celebra-os com livros! ❤️ | Pequena Antologia de Poemas PortuguesesENG - FR - ESPEstamos muito contentes com as novas edições da nossa Pequena Antologia de Poemas Portugueses, que saem agora, para além de em inglês, em francês e castelhano. ❤️ | Lançamento e Apresentação - ConviteDepois, temos outra fantástica nova edição, "Os dias de uma ex-livreira à solta seguido de O quarto interior". Este segundo volume reúne novas crónicas de Dina Ferreira e as suas deambulações pela cidade do Porto, considerações e pontos de vista. Este é, nas palavras da autora "o vício do escrutínio da vida, própria e alheia, em contexto e espaço urbanos, em forma de registos narrativos, visuais e sensitivos, total e obsessivamente transpostos do real absoluto". Este livro marca ainda a sua estreia enquanto contista. "O quarto interior" é o seu primeiro conto a ser publicado, escrito durante a pandemia, retrata a história de um casal, desavindo, em busca da felicidade. Este lançamento tem direito a apresentação que ocorrerão na próxima sexta-feira, dia 15 de Dezembro, às 21h30, no Mira Fórum. A sua apresentação estará a cargo de Manuela Monteiro. Lançamos-vos o convite para marcarem presença neste evento! ❤️ | A Hora do Conto - ConviteA pensar no mais novos, já amanhã, dia 9 de Dezembro, às 11h da manhã, vamos ter A Hora do Conto, sessão de histórias com as autoras Milu Loureiro e Carla Garrido. No próximo sábado, dia 16 de Dezembro, também às 11h da manhã, é a vez das autoras Helena Cavaco, Sofia Pereira e Joana Santos. Esta iniciativa de promoção do livro e da leitura de livros infantis é realizada em parceria com a editora Alfarroba e direcionada ao público infantil. Esperamos por vocês, no mezanino da livraria! ❤️ | Todos os Dias Nasce e Morre um PoetaEste mês a cidade poética prestará homenagem, entre muitos outros a Antonia Pozzi, Artur Cruzeiro Seixas, Rainer Maria Rilke, Teresa D'Ávila, Ary dos Santos, Florbela Espanca, Clarice Lispector, Almeida Garrett, Emily Dickinson, Adélia Prado, Paul Éluard, António José Forte, José Tolentino Mendonça, Vitorino Nemésio, Alexandre O'Neill, José Régio, Jorge Sousa Braga, Irene Lisboa e Alberto Pimenta | Florbela Espanca nasceu a 8 de Dezembro de 1894 e morreu a 8 de Dezembro de 1930 A minha tragédia Tenho ódio à luz e raiva à claridade /Do sol, alegre, quente, na subida. /Parece que a minh'alma é perseguida /Por um carrasco cheio de maldade! /Ó minha vã, inútil mocidade, /Trazes-me embriagada, entontecida!…/ Duns beijos que me deste noutra vida, /Trago em meus lábios roxos a saudade!…/ Eu não gosto do sol, eu tenho medo /Que me leiam nos olhos o segredo /De não amar ninguém, de ser assim! /Gosto da Noite imensa, triste, preta, /Como esta estranha e doida borboleta /Que eu sinto sempre a voltejar em mim!... | Alberto Pimenta nasceu a 26 de Dezembro de 1937 Já? já tentaste praticar o bem /fazendo mal? /já tentaste praticar o mal /fazendo bem? /já tentaste praticar o bem /fazendo bem? /já tentaste praticar o mal /fazendo mal? /já tentaste praticar o bem /não fazendo nada? /já tentaste praticar o mal /fazendo tudo? /já tentaste praticar tudo /não fazendo nada? /e o contrário, já tentaste? /já? /seja qual for a tua resposta, /não sei que te diga. | Rainer Maria Rilke nasceu a 4 de Dezembro de 1875 e morreu a 29 de Dezembro de 1926 A PANTERA No Jardin des Plantes, Paris De tanto passar pelas grades, tanto se cansou /o seu olhar que nada mais nele guardou. /Para ela é como se mil grades houvesse /e por detrás das mil grades o mundo não estivesse. /O brando andar suaviza passos vigorosos, /e anda à volta em mínimo passo circular, /é como uma dança à volta de centros poderosos, /onde se encontra uma vontade acabada de anestesiar. /Apenas algumas vezes a cortina da pupila se levanta sem pressa /e sem qualquer ruído. Então uma imagem a atravessa, /percorre a tensão nos membros apaziguada em vão - /e deixa de existir no coração. | José Tolentino Mendonça nasceu a 15 de Dezembro de 1965 Nós somos imprevisíveis. Às vezes olhamo-nos ao espelho e, mesmo sem dizer, dizemos aquele verso de Rimbaud, «Eu sou um outro». «Quem é este que me olha no espelho?» Olhamos para nós e há uma estranheza de ser que nunca se cura: «Mas sou assim? Que caminho é este? Que tempos são estes que me habitam?» Nós somos também um segredo para nós mesmos e temos de aceitar-nos assim. Somos um enigma, uma pergunta, e temos de aceitar isso. Caso contrário, não teremos paz. | Emily Dickinson nasceu a 10 de Dezembro de 1830 O vulcão reticente guarda em si /Um plano vigilante - /Os seus róseos projectos não confia /A homem contingente. /Se a natureza não contar a história /Que Jeová lhe contou /Pode viver a humana natureza /Sem um ouvinte? /Que esse que muito fala seja atento /Aos seus lábios selados /O único segredo bem guardado /É a Imortalidade. | Clarice Lispector nasceu a 10 de Dezembro de 1920 e morreu a 9 de Dezembro de 1977 De manhã na cozinha sobre a mesa vejo o ovo. Olho o ovo com um só olhar. Imediatamente percebo que não se pode estar vendo um ovo. Ver o ovo nunca se mantêm no presente: mal vejo um ovo e já se torna ter visto o ovo há três milênios. – No próprio instante de se ver o ovo ele é a lembrança de um ovo. – Só vê o ovo quem já o tiver visto. – Ao ver o ovo é tarde demais: ovo visto, ovo perdido. – Ver o ovo é a promessa de um dia chegar a ver o ovo. – Olhar curto e indivisível; se é que há pensamento; não há; há o ovo. – Olhar é o necessário instrumento que, depois de usado, jogarei fora. Ficarei com o ovo. – O ovo não tem um si-mesmo. Individualmente ele não existe. Ver o ovo é impossível: o ovo é supervisível como há sons supersônicos. Ninguém é capaz de ver o ovo. O cão vê o ovo? Só as máquinas vêem o ovo. O guindaste vê o ovo. – Quando eu era antiga um ovo pousou no meu ombro. – O amor pelo ovo também não se sente. O amor pelo ovo é supersensível. A gente não sabe que ama o ovo. – Quando eu era antiga fui depositária do ovo e caminhei de leve para não entornar o silêncio do ovo. Quando morri, tiraram de mim o ovo com cuidado. Ainda estava vivo. – Só quem visse o mundo veria o ovo. Como o mundo o ovo é óbvio. O ovo não existe mais. Como a luz de uma estrela já morta, o ovo propriamente dito não existe mais. – Você é perfeito, ovo. Você é branco. – A você dedico o começo. A você dedico a primeira vez. Excerto de O Ovo e a Galinha | | | |