Foi ontem 14 de dezembro de 2023, apresentado na Casa Comum (Reitoria da Universidade do Porto) o livro organizado por Luísa Schmidt e editado nas Edições Afrontamento, do Porto, 50 Anos de Políticas Ambientais em Portugal (cerca de um ano depois de ter sido editado pelo mesmo editor o livro organizado pela Professora Maria Amélia Martins-Loução e Rúben Oliveira, Um Pouco Por Toda a Parte: A Ecologia do Século XXI).
Do livro de Luísa Schmidt falaram a Arquiteta Paisagista Teresa Andresen e o Biólogo Nuno Ferrand. Este último aludiu em determinado momento, recomendando-o na generalidade, ao pequeno livro do Arquiteto Paisagista e Silvicultor Fernando dos Santos Pessoa intitulado Libelo sobre Um País Destroçado.
Lembrámo-nos então que esse Libelo tinha sido apresentado há uns anos (talvez 2016) na nossa associação Campo Aberto, com a presença do autor, Fernando S. Pessoa (na nossa pequena loja temos ainda três exemplares disponíveis...). Um livro desassombrado que denuncia o desmantelamento das estruturas de proteção ambiental criadas nos anos 1974-75 e 1982 e seguintes por Gonçalo Ribeiro Teles e colaboradores (entre os quais o próprio F. Santos Pessoa). E dos próprios Serviços Florestais vindos do século XIX.
Nuno Ferrand elogiou o Libelo mas sem deixar de notar nele algum "exagero". O que não o impediu, e muito justamente, de lamentar pouco depois a perda de alguns aspetos das "joias da coroa" do nosso património de áreas protegidas, que atribuiu também à catastrófica decisão de, há mais de 10 anos, terem sido retirados aos Parques Naturais e ao Parque Nacional os diretores, exclusivos a cada um, que até então orientavam os cuidados com esses parques, ao ponto de ter restado apenas um único diretor para toda a zona norte onde se situam algumas dessas tais joias da coroa. E o mesmo no resto do país. Ou seja, e decerto por isso o referiu, o biólogo concordava afinal grosso modo com o autor do Libelo.
Estamos em época bizarra e incoerente em que, em nome da contabilidade do carbono, apenas se olha à suposta transição energética, ao mesmo tempo que, a pretexto de se "triplicar" a produção das energias "renováveis", se destroem valores ecoambientais do nosso património natural. Como se fosse possível resolver o problema climático agravando o problema da deterioração ambiental, com total cegueira para o facto incontornável de que agredir o património ecológico é forçosamente agravar, mais cedo ou mais tarde, o problema climático. Mas algumas "autoridades" inconscientes ainda não se deram conta disso, e julgam que destruindo o coberto vegetal e "plantando" lá uma floresta de coletores fotovoltaicos estão a fazer "política verde". Bastaria que olhassem para as "paisagens de ferro" (como lhes chama a Professora Martins-Loução) que estão a espalhar a esmo pelo país para perceberem que da cor verde da clorifila essas paisagens nada têm. Diga-se que a energia solar é, utilizada de modo descentralizado e num contexto de autêntica democracia energética, a mais promissora de todas as existentes. Não obstante, os sobreiros e os arvoredos e solos vegetalizados que estão a destruir com um solar atabalhoado e mal entendido são eles próprios, antes de qualquer outra coisa que queira ocupar esses solos, e antes dos painéis, produção de energia solar primária.
Campo Aberto - associação de defesa do ambiente