A Fundação Eugénio de Almeida, em Évora, inaugurou, este fim-de-semana, uma exposição de fotografia que "se fosse antes do 25 de abril, não poderia ser apresentada", afirmou o fotografo Alfredo Cunha.
Alfredo Cunha falava a'ODigital.pt no dia em que foi inaugurada a exposição "O Tempo de Todas as Perguntas", que já pode ser visitada até outubro, no Centro de Arte e Cultura (CAC) da Fundação Eugénio de Almeida (FEA).
O fotógrafo começou por nos contar que "as fotografias expostas foram relativamente fáceis de fazer, porque vivia na Amadora, passava por estas crianças todos os dias e algumas já as conhecia e fotografava-as e estas fotografias foram feitas entre os 15 e os 20 anos".
Nesta exposição são apresentadas 36 fotografias "de crianças que, pese algum cenário poder parecer muito miserável, efetivamente, são crianças que têm o futuro nas mãos", frisou.
Para Alfredo Cunha "as crianças transmitem-nos sempre esperança. Estas crianças eram pobres, mas não sabiam que eram pobres, ou melhor, sabiam, mas não tinham consciência disso e então brincavam como podiam e como sabiam".
Com a exposição Alfredo Cunha pretende "mostrar que na altura "o nosso país era paupérrimo e vivíamos numa situação de pobreza muito grande, mesmo aqueles que tinham algum dinheiro tinham pouco, ou seja, o nivelamento fazia-se por baixo."
"Quero que as pessoas tomem consciência de que é uma falácia dizer que nós estávamos muito bem e agora estamos muito mal. Nós não temos muito mal, nós temos uma crise política e é isso que também quero mostrar com estas fotografias", concluiu.
Já Maria do Céu Ramos, secretária-geral da Fundação Eugénio de Almeida, considera que a exposição agora inaugurada "retrata Portugal da década de 70 quando aconteceu o 25 de Abril e que retrata crianças em situações cotidianas, no meio da pobreza, no meio da tristeza, no meio do abandono, com a alegria no olhar, porque têm esperança, porque tem liberdade, pois, a infância é o tempo da liberdade".
A responsável destacou ainda o facto da "programação do Centro de Arte e Cultura da Fundação Eugénio de Almeida, em 2024, ser criada sob o signo da liberdade e da esperança e esta exposição espelha tudo isso e sem dúvida que é uma alegria muito grande para a Fundação apresentar as fotografias do Alfredo Cunha, o grande fotojornalista que documentou o 25 de Abril".
"Esta exposição apresenta um olhar inédito, fotografias inéditas que, mais do que serem sobre o 25 de Abril, são sobre um tempo que gerou o 25 de Abril e que nos levou e conduziu até ao presente", salientou.
Maria do Céu Ramos concluiu salientando que "se nos aproximarmos abertamente de algumas das fotografias, sentimos a esperança e a liberdade da infância no olhar destas pessoas que aqui estão retratadas. Há uma fotografia poderosíssima e há momentos de encanto, de liberdade e de esperança."
Intitulada "O Tempo de Todas as Perguntas", a mostra poderá ser visitada até outubro, no Centro de Arte e Cultura (CAC) da Fundação Eugénio de Almeida (FEA) e tem curadoria de Patrícia Reis.
Fique de seguida com algumas imagens da inauguração da exposição, numa reportagem de Hugo Calado.
