O percurso artístico de Júlio Pomar está em destaque na Galeria São Roque, em Lisboa, com a exposição A mão que vê, e manda! Pomar, Oito Décadas, que foi inaugurada no dia 27 de setembro. A exposição representa uma grande oportunidade para ver e apreciar o espólio do artista, percorrendo várias fases da sua obra. Ao viajar através de oito décadas da obra de Júlio Pomar, o público pode observar a sua evolução enquanto artista e a forma como Júlio Pomar demonstra a realidade de cada década e como aborda temas que marcaram a sua carreira.
"Não sendo uma retrospetiva, que é função dos museus, esta seleção da obra de Júlio Pomar estabelece uma sequência de momentos da sua obra e da sua vida, de temas principais e de fases de um artista que foi pesquisando sempre novas orientações sem querer fixar-se num formulário ou num estilo", diz Alexandre Pomar ao NOVO.
"Assim, contando com o espólio deixado pelo artista, reuniram-se trabalhos dos primeiros anos neorrealistas, com desenhos feitos na prisão em 1947 e pertencentes ao chamado Ciclo do Arroz de 1953. Muito mais tarde, continuando na área do desenho, mostram-se os retratos de Pessoa e Almada Negreiros feitos por ocasião da decoração da estação do Alto dos Moinhos, em 1983-84. Passando à pintura ilustra-se o tempo dos retratos e das colagens eróticas, dos anos 70, para se mostrarem depois pinturas já dos anos 2000, algumas inéditas. Outras obras desenhadas, os Tigres, as ilustrações para D. Quixote, os Índios do Xingu exibem a diversidade de interesses e a evolução do trabalho ao longo das oito décadas", acrescenta o filho do artista, que realça características que marcam o trabalho de Júlio Pomar.
"Uma característica essencial é a diversidade das linguagens num processo coerente de sucessivas pesquisas, que não segue modas, mas evolui, acompanhando ou reagindo às questões colocadas aos artistas ao longo do seu tempo de trabalho: a relação com o abstracionismo, a admiração pela arte pop norte-americana, a gestualidade das figurações que emergem nos anos 80. Mais em detalhe poderá falar-se do gosto ou necessidade da observação (os desenhos de animais, por exemplo), da intervenção cultural e social (a Maria da Fonte, os retratos de escritores), da presença sempre renovada do erotismo (na representação dos corpos e dos jogos do amor), da relação com a literatura presente nas ilustrações de muitas obras".
Algumas décadas da obra de Júlio Pomar destacam-se mais nesta exposição. "É possível destacar várias décadas, ao sabor das preferências pessoais, porque todas elas, desde os anos 40 aos anos 2000, têm obras marcantes, e poderia falar-se de uma sucessão de maturidades. Nesta exposição destacam-se as décadas de 40 e 50 nos desenhos, depois o erotismo das obras dos anos 70, e depois a plenitude sempre inventiva de uma obra tardia como o grande Julgamento de Páris, de 2002, e o humor da série dos burros", assinala Alexandre Pomar.
Da mesma forma que estas oito décadas ilustram a evolução da obra de Júlio Pomar, também espelham a evolução da sociedade portuguesa através da sua arte. "Algumas obras referem situações políticas como a prisão, outras a rudeza do trabalho no campo, outras são desenhos africanos de gente negra, ecos coloniais únicos no seu trabalho, ou a revolta da Maria da Fonte no século XIX narrada por Camilo Castelo Branco. Mas também as séries eróticas dos anos 70 espelham a mudança da sensibilidade após a crise de Maio de 68 e do 25 de Abril", explica Alexandre Pomar.
Esta exposição apresenta um número significativo de obras inéditas de Júlio Pomar, que "apareceram com o estudo e inventário do espólio deixado pelo artista". "Há obras que o artista conservou para si ou guardava para expor em exposições antológicas, como os retratos de Pessoa e Almada, ou os desenhos eróticos e da série dos Tigres. Outras obras terão ficado esquecidas ou arrumadas nas pastas e arquivos, quando o pintor passava a novas direções de trabalho. Há séries de desenhos que continuavam nos blocos de trabalho e de viagem, como no caso dos Índios do Xingu, na Amazónia onde esteve em 1988", revela o filho do artista, Alexandre Pomar. "Depois das exposições que fez em Paris e em Lisboa já nos anos 2000 tem sido escassa a presença de obras acessíveis no mercado, e os herdeiros do artista quiseram continuar a assegurar a sua visibilidade e disponibilidade", completa.
A exposição A mão que vê, e manda! Pomar, Oito Décadas vai estar patente na Galeria São Roque até ao dia 17 de janeiro de 2024.