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terça-feira, 24 de outubro de 2023

Turismo. Sazonalidade vai diminuir, mas faltam apoios do Governo

Fazer turismo fora da época alta é uma tendência futura, mas Francisco Madelino, presidente do INATEL, afirma que o Estado deve atuar e criar procura. França e Espanha são exemplos a seguir.

A chamada época alta do turismo – que atinge o pico no verão – pode estar em vias de extinção. Segundo Francisco Madelino, presidente da Fundação INATEL, a tendência é que no futuro haja cada vez mais uma diluição das épocas baixa e alta, reduzindo a sazonalidade do setor.


Turismo. Sazonalidade vai diminuir, mas faltam apoios do Governo


Em novembro de 2022, de acordo com os dados do INE, as dormidas atingiram as 743 mil, uma subida de 14,1% face ao mês homólogo de 2021. Podemos estar a assistir a uma redução da sazonalidade do turismo?
Francisco Madelino – O turismo tem vindo nos últimos anos a reduzir a sazonalidade. Os meses altos eram os de julho e agosto e digamos que este pico, esta curva, começou a alargar-se para meses de junho e setembro.
As alterações climáticas também ajudam, mas sobretudo ajuda o crescimento e o facto de Portugal ter ganho um conjunto de prémios e ser reconhecido a nível internacional.
Este fenómeno começou pela área de Lisboa, depois passou para a área do Porto e também para o Algarve e depois começou a extravasar para outros pontos do país e mesmo para outras épocas. A ocupação em Lisboa e no Porto começou a subir fora dos meses que vão entre junho e outubro, que já tinham tido um alargamento.


A pandemia da Covid-19 também contribuiu para isso..
A recuperação da pandemia seguiu duas fases. O ano passado sobretudo através do turismo interno e este ano muito por turismo externo. Os dados macroeconómicos também mostram isso. O segundo trimestre deste ano cresceu sobretudo pelo setor turístico. Ainda não é um trimestre em alta, mas é mais uma manifestação de que a sazonalidade do setor turístico está a diminuir.


Esta redução da sazonalidade deverá ser uma tendência a manter-se no futuro?
É uma tendência futura e seria bom se se expandisse para o interior do país. Com as alterações demográficas e a desertificação, essa capacidade de levar o setor turístico para o interior e baixar a sazonalidade é importante para ser uma atividade rentável e até combater esta desertificação. É muito difícil ter rentabilidade no setor turístico apenas com base em dois ou três meses.
A sazonalidade tem vindo a baixar, o que tem feito com que surjam novos investimentos turísticos em áreas como a Serra da Estrela, mas é determinante que ela passe para o interior do país e que seja o próprio Estado a promover a procura desses setores.


Como é que se pode incentivar o turismo em época baixa e combater a sazonalidade e o desemprego? A Fundação Inatel teve o programa Turismo Sénior, por exemplo…
Sim, é um programa que existiu através dos programas comunitários e que se espera que venha a existir.
Sabemos que há muitas pessoas que não têm acesso ao turismo, ainda cerca de metade dos portugueses não passam férias. O Estado tem de atuar, por razões de saúde ou por razões sociais, e criar procura, apoiar e pagar uma parte significativa da estadia.
Por exemplo, se for a Espanha ou França, há políticas públicas muito "agressivas", no bom sentido, de apoiar a utilização das termas ou de determinado tipo de infraestruturas no interior. Por um lado, para que um conjunto de pessoas tenha acesso à atividade turística, mas sobretudo para que regiões do interior tenham uma atividade económica que contrarie a desertificação.
Em França, nos descontos que as pessoas fazem para a segurança social, há depois uma componente de apoio do Governo que são os chèques-vacances, ou seja, dão cheques para passar férias e podem restringi-los nas zonas onde o fazer.
É apenas um apoio ao motor de arranque para este tipo de atividade se desenvolva porque o ideal é que as pessoas tenham todas dinheiro para passar férias e fazer atividade turística e que os hotéis funcionem regularmente em mercado.


O aumento dos preços na época alta associado ao crescente custo de vista e da inflação, não poderá levar muitos portugueses a não passarem férias cá dentro?
É verdade que o setor turístico foi dos que mais aumentou – cerca de 100% em alguns casos -, mas isso não é necessariamente mau. O que é mau é que os portugueses não possam passar férias e a atividade económica não gere rendimentos para essas pessoas que não podem passar férias nem cá dentro nem lá fora.