Carta de Carlos J. Pessoa sobre o Dia Mundial do Teatro - Triplov INFO

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quinta-feira, 28 de março de 2024

Carta de Carlos J. Pessoa sobre o Dia Mundial do Teatro




Mensagem do Dia Mundial do Teatro
Carlos J. Pessoa
 
 Dalom dalom, dalom dalom!
 

 No dia mundial do teatro reitero o meu compromisso com esta arte, que sendo ofício e vocação é sobretudo serviço público. Um serviço que se pratica entre outras maneiras, tornando episódios do quotidiano, matéria prima de fábulas e histórias de pasmar. 
 
 Virgínia tinha cinco filhos; o marido bebia e batia-lhe muito; depois a Virgínia saiu de casa e nunca mais ninguém soube dela. O marido deixou de beber porque se calhar já não tinha mulher a quem bater, e criou os cinco filhos.
 
 A Virginia poderia ser a Menina Júlia do dramaturgo August Strindberg; mas não, a Virgínia é a Virgínia; é única. 
 
 Se me perguntam porque faço teatro, como comecei a fazer teatro ; posso dizer que é por causa da Virgínia, que sou um pouco como a Virgínia, porque se o tempo torna as tragédias cómicas, também remete para a melancolia; também torna tudo mais nebuloso, como certos dias de nevoeiro, que nada ficam a dever à desorientação dos soldados no campo de batalha. 
 
 Muitas guerras se perdem e outras se ganham e ficamos sem saber, como fazemos Teatro, qual a estratégia seguida no campo de batalha: ganhámos por acidente, perdemos por ilusão, por cobiça? Como é que sabemos que o que fazemos faz sentido? E que sentido é esse?  
Aqui a 1200 metros acima do nível do mar, por entre cedros, carvalhos, pseudotsugas e teixos, estou a remoer o burburinho dos empregados da estalagem ordenando talheres, correndo a atender as vontades dos clientes, numa marcação habitual, orgânica, que não precisa de encenador, apenas a voz de um hábito adquirido. Embora se admita a excepção à regra. 
 
 Tal qual o Parreira e o Augusto que andaram à pancada por causa de um copo de vinho que o Augusto queria que o filho-menino do Parreira bebesse; o Parreira não gostou e foi a polícia que os separou; na esquadra levaram os dois pancada da polícia, porque se armaram em parvos. 
 
 Regressaram da esquadra mansos como cordeirinhos para no dia seguinte se tratarem como sempre: melhores amigos. 
 
 Se a criança me pergunta para onde vai o caracol, respondo-lhe: "para cima, para cima!" , onde as vistas são mais bonitas, e tudo parece pequenino como se a infância tomasse conta do Teatro, como uma avó que cuida do neto, cantando a canção: 
 
 "Eu tenho uma vaca leiteira, não é uma vaca qualquer, dá-me leite e manteiguinha, oh que vaca tão fofinha: dalom dalom, dalom dalom!"
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