Teatro da Garagem: newsletter de março de 2024 - Triplov INFO

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sexta-feira, 1 de março de 2024

Teatro da Garagem: newsletter de março de 2024




Newsletter de Março de 2024
Texto de Carlos J. Pessoa

O recreio da polémica e o rock and roll 
 
 Passos na Floresta é um espetáculo imperdível; porque perdermo-nos nele é fundamental, como reagir à perda, na constatação de erros, falhas, responsabilidades, sem perder de vista ser livre, ser melhor, ser irmão, amigo, cúmplice, amante. 
 
 Tudo neste espectáculo remete para o ideário da Garagem: a iniciativa, o desejo de resolução, de compromisso. 
 
 Falando das personagens: 
 
 Maybe Tenderness é o coração partido, a Bela Adormecida que não vai acordar, o vagabundo dos sonhos iludidos, Gerard Philippe perdido na memória do cinema; Jean Renoir magnânimo, carinhoso numa ternura de chorar a sorrir, como Anna Magnani a despedir-se de Fellini em Roma, Cidade Aberta: "ciao Federico!"
 
 E fecha a porta devagar.
 
 Ozymandias é a História, que da areia do deserto resgata heroínas sem nome, o peso do silêncio, Peter O'Toole a dizer sonetos de Shakespeare, Mary Shelley a "defender a poesia" enquanto Percy escreve o Frankenstein, num erro deliberado, numa provocação : a grande Aretha Franklin de novo a cantar Nessun Dorma, e o Coro, um bálsamo de sins, sins, sins , serem pãezinhos a cair do céu na fome de Moisés.
 
 A personagem Veríssimo vem do Betão de Thomas Bernard, do Quarteto para Helicópteros, de Karlheinz Sctockausen, do 11 de Setembro, de foder e estar lixado, numa Fuga sem Fim, de Roth; Joseph numa longínqua invocação de um palheiro: seria Jerusalém, Marrocos, Monty Python, Morávia, Odessa? Tinhas os olhos azuis, castanhos, como te engoliu o deserto? Uma cheia súbita que te afogou, não foi Isabelle? 
 
 Takemitsu que te fez encontrar as palavras para as cenas mudas do Ran, o Lear de Akira Kurosawa. 
 
 Da personagem Évoramonte tenho uma epopeia de alentejos: de Manuel da Fonseca a D. Quixote, a Orson Wells diante de Chartres; da catedral de Joana D' Arc à música do conjunto António Mafra, passando por Feldman , Rothko, Linda de Suza, o Bosch de Veneza, Grimani; de Sex Pistols a Martin Codax, do Ondas do Mar de Vigo. 
 
 Tanta vastidão Penélope, tanto Lelé, meu Telémaco, a esvaires-te , a esvaires-te. 
 
 "É isto a morte, pai? A morte nunca é doce."  
Da personagem Gonçalo que morres a cada segundo que passa, nos teus músculos de santo maneirista: Pontormo, Parmigianino, Pasolini. 
 
 De Pompeu coluna em Alexandria, de Sida, teres morrido Gonçalo, florido, talvez, Konstantinus Kavafis; nunca mais dançando e ainda assim, por quietude, a lap dance perfazer-se em volta de um varão de soro. Durrell, ilhas, um Hamlet espectral, de tão ostensivo, bruto, feio na esteira de condenados em Alcatraz ou de Friedkin, algures na América do Sul, a transportar num camião, por caminhos enlameados e íngremes, nitroglicerina. 
 
 Que nunca te expluda o coração que a alma livre torna tudo mais fácil: de amar a beber cervejas. 
 
Mudando de assunto:
 
 O Dayligth tem isso de ser uma Escola de Primavera, Spring School, a vocação da Garagem para aprender ensinando, criando oportunidades de aprendizagem, entre gente muito diferente , de países e culturas tão dispares que dar a mão fica fácil, fica fácil a compaixão diante de um desconhecido; fica fácil depois da experiência de lidar com desconhecidos, perceber as dificuldades conhecidas, e não arredar pé das convicções, mesmo seguindo a maré, de quem chega e parte, reconhecendo que a vida continua para melhor. 
 
 Ao chorares o fim do universo estás a alegrar-te com os infinitos detalhes de tudo; e com essa curiosidade de criança, renasces para o recreio da polémica e do rock and roll que te anima.
PASSOS NA FLORESTA, de 7 a 10 de Março de 2024. Quinta-feira, às 19h30, sexta-feira e sábado às 21h, domingo às 16h30, no Teatro Taborda.

M/14

"Quando te perdes na floresta, é a floresta que te encontra e te ensina o caminho de volta. Vai sem medo e aprende a ser livre."
Carlos j. Pessoa

SINOPSE 

 Na escuridão da floresta, dançam vaga-lumes…  

 O que é a Floresta? A natureza na sua expressão desafiadora, que entre perigos e oportunidades fornece o manual de instruções para a sobrevivência, para a vida eterna dos instantes.  

O que são Passos? Etapas num percurso de vida que se quer pleno, lúcido e fraterno.  

 Passos na Floresta é o indicativo de uma viagem que um grupo de artistas inicia, cada um com as suas histórias, propondo ao espectador poesia, humor e responsabilidade; entenda-se responsabilidade, em lugar de culpa, porque a vida é, também, confronto, no sentido de a cada passo, cada pessoa, responder pelo que fez, ou não fez. 

 Passos na Floresta não visa a moral, mas o compromisso árduo, aquele que exige atenção, para que a dança festiva na clareira da floresta possa correr bem; para que o amor se liberte da perfídia, para que cada pessoa possa ser livre; aprendendo a cada passo, a ser encontrada, pelo labirinto florestal que inebria os sentidos.  

 Passos na Floresta é um espectáculo realista, no sentido da identificação de histórias verídicas, que poderiam ser parte do memorial de cada espectador; por outro lado é um espaço onírico, uma transmutação feérica, que dá aos espectadores a oportunidade de se perderem também e serem encontrados pela Floresta; devolvidos por essa natureza rude, de beleza cruel e fértil, ao melhor de si mesmos, se for essa a sua decisão, se for essa a sua sorte.  

 Não temos garantias para oferecer, só um passeio astuto na Floresta.  

 Na escuridão da floresta, dançam vaga-lumes. 


Bilheteira: https://teatrodagaragem.seetickets.com/tour/passos-na-floresta


FICHA ARTÍSTICA E TÉCNICA

Texto: Carlos J. Pessoa
Encenação: Carlos J. Pessoa
Assistente de Encenação: Mariana Índias
Cenografia: Herlandson Duarte
Desenho e operação de luz: Luís Bombico
Operação de som e vídeo: Jorge Oliveira
Figurinos: Herlandson Duarte
Interpretação: Carolina Cunha e Costa, Gonçalo Lino Cabral, Nídia Cardoso, Rafaela Jacinto e Siobhan Fernandes
Fotografia e vídeo promocional: Vitorino Coragem
Comunicação: José Grilo
Design: Sara Kurash
Direção de Produção: Raquel Matos

Produção Executiva: Rita Soares
Produção: Teatro da Garagem

Apoio: Câmara Municipal de Lisboa, EGEAC, Junta de Freguesia de Santa Maria Maior
Financiamento: Direção-Geral das Artes, Governo de Portugal | Ministério da Cultura

Mais informações:
218 854 190 | 924 213 570
producao@teatrodagaragem.com