UM CLUBE DE LEITURA DE PEÇAS DE TEATRO - Teatro da Cidade 2ª 24 de Maio - SALA VIP de Jorge Silva Melo Gente que espera, gente que já morreu? São quem? Personagens do mundo lírico, Leonoras, Huskymiller, Azucenas? Esperam – desesperam. Já tudo acabou? Quando o Pedro Gil me perguntou se eu estaria interessado em escrever para ele (uma peça, uma não – peça, uma coisa), sabia que ia encontrar um interlocutor e não apenas um encomendador. E eu queria escrever uma peça que ele quisesse montar, como e quando e com quem lhe apetecesse. Gosto muito do Pedro e já lá vão, imagine-se, 12 anos que nos entendemos, desde A Capital, 2000. Mas não queria fazer uma peça que lhe calhasse a matar, na sequência daquelas que ele tão bem tem feito. Queria que fosse minha, com as minhas inquietações, aquilo que me interessa, aquilo que me inquieta, este meu mundo que termina em breve. Não queria uma peça para colocar lindas palavras no espectáculo do Pedro, queria passar-lhe, como há anos fazemos, as chaves do carro (como o fiz no filme sobre o Álvaro Lapa), falar com ele da estrutura intrigante das velhas (e afinal tão novas) peças de Terence Rattigan (que cada vez mais gostaria de montar), entregar-lhe um mundo que me desaparece. E há anos que ando, também por nunca ter conseguido dirigir o Boulevard Solitude de Hans Werner Henze, bela ópera mais uma vez sobre a Manon do Abade Prévost, às voltas com esta paixão, esta vertigem, esta morte, o dinheiro. E então será esta a minha Manon, sola, perduta, abandonata, com saudades de Puccini. Entre salas de espera, entre hospitais, spas e aeroportos, vamos morrendo, desfeitos. Jorge Silva Melo |