Uma cruz feita por alunos de uma escola cristã em Qaraqosh, no Curdistão iraquiana: esta é a primeira vez que cristãos católicos, ortodoxos e assírios do país celebram em conjunto a Festa da Santa Cruz, data importante no calendário dos cristãos orientais. Foto © ACN/AIS.
Os cristãos iraquianos de confissão católica, ortodoxa e assíria estão a preparar em conjunto as celebrações da Festa da Cruz, que se realiza a 14 de setembro, numa altura em que as comunidades estão a reconstruir as suas vidas após os anos de violência e guerra civil no Iraque.
"Um momento histórico em Erbil", a capital do Curdistão iraquiano, no Norte do país, define o Vatican News, portal de notícias do Vaticano, ao dar a notícia, nesta quarta-feira, 11. Em Ankawa, um subúrbio de Erbil, centenas de cristãos estão envolvidos nos preparativos da Festa da Cruz, que começaram na segunda-feira, 9, e se prolongarão até sexta-feira, 13. O acontecimento é marcado por grandes esperanças, uma vez que os cristãos de várias tradições – católicos, ortodoxos e assírios – se juntam pela primeira vez para celebrar a memória do achado da Santa Cruz, na qual, afirmam as escrituras, Jesus Cristo morreu.
O foco das celebrações sublinha a fé que une as diferentes confissões cristãs. Todos os dias, as pessoas se juntam para rezar numa igreja diferente e participar nos vários encontros culturais organizados nas ruas, ornamentadas com luzes. Todos os encontros fazem parte dos preparativos para a festa litúrgica da Exaltação da Santa Cruz, que várias confissões cristãs assinalam no dia 14 de setembro.
Na abertura dos preparativos, segunda-feira, 9 de setembro, conta o Vatican News, uma grande cruz foi levada em procissão até à Igreja Assíria do Oriente de São João Baptista, entre os fiéis que seguravam grandes velas acesas, simbolizando o louvor e também a partilha e a paz. "As igrejas costumavam celebrar esta festa separadamente todos os anos. Mas este ano é maravilhosamente diferente", sublinhou Bashar Matti Warda, arcipreste da diocese católica caldeia de Erbil, que organizou o encontro com o apoio de Mar Awa III, patriarca da Igreja Assíria do Oriente, e dos bispos das Igrejas Siro-Católica e Siro-Ortodoxa.
No seu discurso durante a festa, o patriarca Mar Awa III explicou como "a celebração da Festa do Achamento da Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo representa um marco importante no plano divino na Igreja do Oriente". E acrescentou: "Quando olhamos para a cruz, recordamos os sofrimentos de Cristo, mas também a sua gloriosa ressurreição dos mortos. E quando fazemos o sinal da cruz sobre nós próprios, proclamamos a nossa expetativa do seu segundo advento e a nossa fé na vida eterna."
As celebrações da Festa da Santa Cruz representam mais um passo concreto no ecumenismo, ao qual a Igreja Católica atribui grande importância, como afirmou o Papa Francisco na sua Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, refere o Vatican News, citando este documento: "o compromisso com o ecumenismo responde à oração do Senhor Jesus para que 'todos sejam um'".
Segundo a mesma fonte, os acontecimentos representam também um sinal positivo para o futuro dos cristãos iraquianos: nas últimas décadas, as guerras, a instabilidade política e a ascensão do autodenominado Estado Islâmico expulsaram do país milhares de cristãos de todas as denominações. Ainda há pouco tempo, o próprio arcipreste Bashar Matti Warda, na ausência de estatísticas oficiais, referiu que "em todo o Iraque restam cerca de 300 mil cristãos". Mas, afirmava, a esperança mantém-se viva, apesar da redução do número de pessoas, como a festa destes dias em Ankawa.