Aquilo que não podemos falar só podemos calar (é preciso escrever), parece que terá escrito Wittgenstein, parafraseando; e o limite da linguagem é o limite do homem, terá também dito. Se, segundo Wittgenstein, a linguagem oculta o pensamento, ou oculta mais do que desvela, as imagens - os signos na escrita de Jon Fosse que só existem relacionados, como o próprio refere -, se anuladas na sua diferença, devolvem-nos um sentido uno e amplo, mas inapreensível. Entramos então no reino do poema, do lirismo, da artificialidade, da subjectividade e da metafísica – do númeno? Nada prende nada, nem o tempo prende ou, talvez, só a a morte prenda. A falha, a incerteza, a insuficiência e a ausência são constantes nas vozes e nos corpos escritos pelo autor. Mas que corpos são estes, existem, emitem som, comunicam, pensam, ou são apenas falhos? António Simão |