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sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

União das Esquerdas



A possível união das esquerdas nas próximas eleições legislativas de 10 de março de 2024 é um tema que tem gerado muita discussão e expectativa no cenário político português. Após a demissão do primeiro-ministro António Costa, envolvido num caso de corrupção, o Partido Socialista (PS) enfrenta uma crise interna e uma perda de popularidade nas sondagens. O PS, que governou com o apoio parlamentar do Bloco de Esquerda (BE) e do Partido Comunista Português (PCP) na chamada "geringonça" entre 2015 e 2022, tenta agora reconquistar a confiança dos eleitores e dos antigos aliados, que se afastaram do governo socialista por divergências em relação ao orçamento, à política social e à gestão da pandemia.

O BE, liderado por Mariana Mortágua, assumiu o compromisso de negociar um acordo de maioria para um programa de governo de esquerda, caso o PS não obtenha a maioria absoluta nas eleições1. O BE defende medidas concretas para resolver os problemas na saúde, educação, habitação, salários e ambiente, e propõe uma reforma fiscal que aumente a tributação sobre os rendimentos mais altos e as grandes fortunas. O PCP, sob a direção de Paulo Raimundo, também se mostra disponível para dialogar com o PS, desde que este se comprometa com uma política patriótica e de esquerda, que valorize o trabalho, os direitos e os serviços públicos, e que reforce a soberania nacional e a cooperação internacional2.

No entanto, a união das esquerdas não é garantida, nem fácil de concretizar. O PS, que escolheu Pedro Nuno Santos como novo líder e candidato a primeiro-ministro, tem enfrentado resistências internas e externas à sua aproximação ao BE e ao PCP. Alguns setores do PS, mais próximos do centro e da ala direita do partido, preferem uma aliança com a Iniciativa Liberal (IL), um partido liberal e europeísta, que tem crescido nas intenções de voto e que se apresenta como uma alternativa ao populismo e ao nacionalismo. A IL, comandada por Rui Rocha, defende uma redução da carga fiscal, uma maior liberdade económica e individual, e uma reforma do Estado que promova a eficiência, a transparência e a inovação3.

Por outro lado, a união das esquerdas também enfrenta a oposição e a pressão da direita, que se reorganizou em torno da Aliança Democrática (AD), uma coligação formada pelo Partido Social Democrata (PSD), pelo Centro Democrático e Social - Partido Popular (CDS-PP) e pelo Partido Popular Monárquico (PPM). A AD, liderada por Luís Montenegro, pretende recuperar o espaço político perdido para o Chega, um partido de extrema-direita, nacionalista e anti-sistema, que tem captado o descontentamento e o protesto de muitos eleitores. O Chega, encabeçado por André Ventura, propõe medidas radicais, como a redução do número de deputados, a prisão perpétua, a castração química, a expulsão dos imigrantes ilegais e a saída de Portugal da União Europeia e da NATO4.

Assim, as eleições de 10 de março de 2024 serão decisivas para o futuro de Portugal, que se encontra numa encruzilhada entre a continuidade ou a mudança, entre a esquerda ou a direita, entre a integração ou o isolamento. A possível união das esquerdas é uma das hipóteses em cima da mesa, mas dependerá dos resultados eleitorais, das negociações pós-eleitorais e da vontade política dos partidos envolvidos. A única certeza é que os portugueses terão uma palavra a dizer, através do seu voto, sobre o rumo que querem dar ao seu país.