Tradução J. Filardo
Yves Hilvert-Messeca[1]
Se basearmos nosso julgamento na afirmação de Alexandre Defay[2] de que "a geopolítica estuda as interações entre o espaço geográfico e os conflitos de poder decorrentes", é discutível que, desde seus primórdios como instituição e ideologia, a Maçonaria tenha tido uma dimensão geopolítica. É vocação de cada maçom, de cada Loja e de todo corpo maçônico converter outros, desenvolver, sobreviver e, portanto, ocupar e "explorar" um território real e/ou imaginário. Ao longo do século XVIII, Irmãos, Lojas e/ou Obediências criaram redes que formaram o ecumene maçônico. O boom geopolítico da maçonaria revelaria uma certa mobilidade – práticas de viagem, hospitalidade e intercâmbio epistolar e econômico. Viajar era uma prática comum no Iluminismo. Não era um hábito novo, mas havia se tornado uma ilustração da busca do homem para explorar o mundo e seus fenômenos, e expandir seus conhecimentos.
Maçons viajavam pelo mundo enquanto viajavam entre Lojas. A arte de viajar, assim, favoreceu e funcionou através das redes maçônicas. As viagens possibilitaram reconhecer e reivindicar territórios e espaços. Desenvolveu-se uma geopolítica maçônica de viagens, baseada em redes de comunicação e afinidades entre Irmãos, em torno daquelas de organizações maçônicas reivindicando status transnacional (Lojas Cosmopolitas, Lojas Mães e Obediências) que queriam organizar o espaço de acordo com uma lógica e um projeto maçônicos particulares, ou em torno daqueles de Estados que esperavam territorializar sua Maçonaria e colocá-la sob controle estatal, ao mesmo tempo em que a utilizava para servir suas ambições geopolíticas e geoeconômicas.
Os principais atores sociais dessa geopolítica eram viajantes e migrantes, príncipes, aristocratas, filhos de famílias ricas no Grand Tour[3], diplomatas, soldados, marinheiros, homens de religião, comerciantes, paleoturistas, pastores franceses, jacobitas britânicos exilados, artistas, atores, tutores, estudantes e aventureiros como Cagliostro (1743-1795) ou Giovanni-Jacopo Casanova (1725-1798). Ao longo do século, construiu-se uma verdadeira república universal dos maçons, um mundo maçônico e seu corpus. Esta república não era uma forma política liberal e/ou democrática contingente, nem um Estado. Pelo contrário, transcendia e foi difundida em ambos. Constituiu um projeto geopolítico.
Este projeto era original e universal em termos de sua extensão geográfica (mesmo que estivesse de fato centrado em torno do Atlântico, do Mar do Norte, do Báltico e da costa norte do Mediterrâneo), sua composição sociocultural de irmãos teoricamente iguais de diferentes religiões (mesmo que muito poucos viessem da Respublica cristiana) e opiniões, sua estrutura incomum combinava o Antigo Regime e a modernidade, e seu objetivo comum centrava-se em vários princípios que nem sempre eram seguidos, a saber, a prática sincera da virtude, a aquisição desinteressada do conhecimento e a busca incessante da verdade.
A geopolítica maçônica também se baseava na correspondência. Maçons, Lojas e Obediências construíram progressivamente um corpus oficial que foi estabelecido com papel e tinta. Resumindo, "estar na correspondência de" significava pertencer à rede de uma Loja ou organização Hirámica. Havia um fluxo de correspondência oficial e/ou privada entre Irmãos, Lojas e instituições maçônicas, visando estabelecer a legitimidade, o prestígio e a autoridade do autor, ou mesmo do receptor. Em pouco tempo, questões de poder se desenvolveram em torno de redes de correspondência, que se tornaram uma fonte de rivalidades, brigas e disputas intermináveis. Ao longo do século, as cartas constitutivas tornaram-se o ponto focal da geopolítica maçônica. A distribuição de cartas constitutivas por maçons, lojas ou obediências a outros maçons, lojas ou obediências para fins de formação de Loja, fazendo maçons, concedendo graus ou praticando ritos tornou-se uma questão importante. Quem a solicitava buscava legitimidade para sua fundação, e quem a transmitia esperava fortalecer sua rede. Como não havia cuidado demais, as cartas constitutivas eram prontamente solicitadas. Assim, a Loja Candeur, com sede em Estrasburgo, buscou patentes da primeira Grande Loge de France (GLDF; Grande Loja da França) em 1763, depois da Grande Loge des Modernes (Grande Loja dos Modernos) em 1772, da qual se tornou a loja número 429. Também solicitou a inclusão no Directoire Ecossais de Bourgogne (Diretório Escocês da Borgonha), e cartas de agregação ao Grande Oriente de França (GODF; Grande Oriente da França) em 1777. As cartas constitutivas tornaram-se objeto de orgulho e instrumento de controle, ou mesmo fonte de receita.
No entanto, os maçons no século XVIII eram tanto cidadãos da mencionada "república" quanto cidadãos de um país real, o que implicava certas restrições geográficas. As idas e voltas da loja Bordeaux Anglaise, que foi fundada em 1732 por marinheiros e mercadores irlandeses, mas ampliou seu recrutamento para nativos franceses e adotou o francês como sua língua litúrgica, era típico. A organização recebeu novas constituições da Grande Loge des Modernes em março de 1766, e sucessivamente ostentava os números 363 (1766), 298 (1770), 240 (1781) e 204 (1792) desta Obediência, enquanto ela mesma formava outras Lojas como La Française, com sede em Bordeaux (1740). Entrando na correspondência do GODF, recebeu dele cartas de agregação em 1780. Depois de criar outra organização em Bordéus, a Etoile Flamboyante aux Trois Lys (Estrela Fulgurante dos Três Lírios), foi ostracizada pelo GODF, que confirmou a revogação da sua correspondência em 1785. Uma minoria de seus membros fundou a Vraie Loge Anglaise (Loja Inglesa Verdadeira), patenteada por Paris no mesmo ano. Em 1790, os anglaises procuraram novas cartas de agregação do GODF, mas estas foram recusadas. O caso só foi resolvido em 1803.
Assim, a Maçonaria era ao mesmo tempo produto e produtora de geopolítica, mas, por sua vez, ela mesma poderia se entrelaçar com os empreendimentos geopolíticos de outros. Ao longo de todo o século, interferiu, interdependeu ou competiu com academias, salões, clubes, irmandades religiosas, cafés e pousadas. Houve, portanto, uma geopolítica do que Daniel Roche[4] chama de "espaço iluminista". Às vezes, a Maçonaria seria instrumentalizada por outras estruturas, particularmente certos grupos e estados que tentavam usa-la para seus próprios fins geopolíticos. Isso explica a presença de Lojas "comunitárias-nacionais" no Reino de Nápoles ou no Império Otomano. Da mesma forma, na Rússia, nas décadas de 1770 e 1780, os três mil maçons e cem ou mais lojas estavam divididos. Alguns seguiram a influência inglesa por trás do poeta Ivan P. Elaguine (1726-1793), secretário de Catarina II, nomeada por Londres, e grão-mestre provincial em 1772. Outros se juntaram à ação do Sistema sueco liderado pelo príncipe Alexander B. Kurakin (1752-1818) e pelo príncipe Gavrii P. Gagarin (1745-1808). Enquanto isso, alguns se moveram em direção à estrita observância templária,[5] com o conde A. I. Musin-Puskhin (1744-1811) e o general Piotr I. Mélissino, de origem grega (1726-1797). Outros eram prussófilos, com o Rito de Zinnendorf introduzido pelo Barão Johann von Reichel (1729-1791). Ambições e estratégias geopolíticas encapsulavam objetivos maçônicos, com irmãos transitando facilmente entre Obediências de acordo com seus interesses e/ou escolhas. Essas mudanças também mostraram a compreensão que o poder autocrático tinha sobre as lojas russas e sua adaptação à política externa de São Petersburgo. Numa época em que a benevolência, a felicidade, a urbanidade e a virtude deveriam se unir, maçons, lojas e obediências ocupavam principalmente as vagas na sociedade do Antigo Regime. No entanto, eles não romperam com isso. Forjaram microespaços de encontro e expressão, tomando simultaneamente emprestado de configurações antigas ou supostamente antigas, cavalgando as estruturas associativas da modernidade e beneficiando-se o máximo possível das oportunidades da época. Assim, progressivamente e cada vez mais, cresceu uma geopolítica maçônica. Seu sucesso variou entre climas e ao longo dos anos.
Maçons individuais desempenharam um papel nesse desenvolvimento, por exemplo, o alemão Stürtz, a quem Pierre-Yves Beaurepaire charmosamente chamou de "caixeiro-viajante da Arte Real".[6] Com cartas constitutivas da Loja União de Berlim, na década de 1740 formou Lojas e iniciou dezenas de Irmãos, particularmente em Frankfurt-am-Main, além dos diplomas pós-magistrais que distribuía livremente. Algumas Lojas elitistas também entraram em uma construção geopolítica, por exemplo, a Anglaise (Bordeaux), a Vrais Amis de l'Union (Verdadeiros Amigos da União) de Bruxelas, a Pera Oriental (Constantinopla), a Union (Frankfurt), a Irlandaise du Soleil Levant (Loja Irlandesa do Sol Nascente, Paris), que recebeu estudantes de medicina da Irlanda, o Candeur (Estrasburgo) e The Crowned Hope (Viena).
Um exemplo arquetípico foi Saint Jean d'Ecosse (São João da Escócia), com sede em Marselha, que à beira da Revolução se tornou uma verdadeira Obediência com cerca de 30 Lojas afiliadas no Midi Mediterrâneo francês, nas rotas marítimas do Levante (Mediterrâneo Oriental) e nas Antilhas, bem como contatos com cerca de uma centena de grupos em toda a Europa. Três quartos dos membros de Saint-Jean d'Ecosse eram comerciantes ou similares. As grandes famílias endogâmicas da Câmara de Comércio de Marselha (Audibert, Clary, Hughes, Isnard, Samatan, Seymandi, Tarteiron) eram dominantes. Para as elites protestantes super-representadas, proporcionou reconhecimento social e um meio de integração. Seus membros também incluíam a maioria dos cônsules instalados no porto (Áustria, Dinamarca, Piemonte-Sardenha, Polônia e Toscana), bem como eminentes representantes da nobreza local e das autoridades reais. A organização tinha uma verdadeira estratégia geopolítica. A filiação à rede era livre: um argumento de peso em comparação com a "doação gratuita" (impostos) exigida pelo GODF. As Lojas Filhas (Gênova, Palermo, Valeta, Salônica e Constantinopla) posicionaram-se nas rotas comerciais da cidade portuária. Em Esmirna (que tinha 100.000 habitantes na época, metade dos quais eram muçulmanos e um terço dos quais eram gregos), o ramo de Marselha tinha um nome quase programático: Saint-Jean d'Ecosse des Nations Réunies (São João da Escócia das Nações Unidas). Era um ponto de encontro para comerciantes ocidentais e alguns representantes das elites econômicas locais (quase exclusivamente cristãos). No entanto, como a maioria das Lojas da época, praticava uma forma flexível de Maçonaria como resultado de fraquezas estruturais (alto absenteísmo, rotatividade, atividades caritativas seletivas e variáveis, conflitos individuais pelo poder, e assim por diante) que muitas vezes dependiam do contexto geopolítico.
No entanto, é no nível das Obediências que uma análise geopolítica é mais relevante. Em teoria, o cosmos maçônico se estendia por todo o mundo. Na realidade, equivalia-se ao mundo europeu. Várias concepções obedientes competiram para estruturá-lo. Em linhas gerais, quatro são mais dignas de nota:
a) A concepção inglesa.
Muito cedo, a Grande Loja de Londres (mais tarde a Grande Loja dos Modernos) teorizou a constituição de uma espécie de Comunidade Maçônica organizada em torno de si mesma: a autoproclamada Loja Mãe do Mundo. Tinha uma espécie de condomínio desequilibrado (Londres dominando) com as Grandes Lojas da Irlanda e da Escócia, e uma política de constituição fora da Inglaterra de Grandes Lojas provinciais e 30 Grão-Mestres provinciais, nomeados de 1730 a 1789. Alguns ficaram sem um grupo, e outros buscaram a independência, como François Bonaventure du Mont, Marquês de Gages (1739-1787), que foi feito grão-mestre provincial dos Países Baixos austríacos (atual Bélgica) em 1770. Ele fez de sua província uma entidade maçônica autônoma, negligenciando o pagamento de impostos a Londres e concedendo cartas patentes. Em teoria, a Obediência Inglesa não se dava o poder de criar diretamente Lojas na esfera geopolítica das Grandes Lojas provinciais. No entanto, muitas vezes traiu esse princípio. Acima de tudo, a Grande Loja dos Modernos deu-se o direito proclamado de reconhecer (ou não) um corpo maçônico e proclamá-lo regular (ou irregular), ao mesmo tempo em que se opunha à territorialização e nacionalização das organizações maçônicas. No entanto, a principal razão para o fracasso desse modelo geopolítico foi a longa guerra (1751-1813) entre os modernos e os antigos na Inglaterra e nas colônias britânicas, e a resistência das obediências nacionais e nacionalistas a Londres.
b) A concepção "germânica"
Representada pela Estrita Observância Templária, foi formada na década de 1750 pelo barão da Silésia Carl Gotthelf von Hund und Altengrotkau (1722-1776). Entraria em colapso devido ao seu germanocentrismo (entre outras coisas) após a morte do duque Fernando de Brunsvique-Luneburgo-Volfembuttel (1721-1792), que se tornou seu último grão-mestre em 1772. A Estrita Observância Templária fazia parte da atividade constante das sociedades secretas transalemãs que participavam do processo de homogeneização política e cultural que afetava as elites de língua alemã. Pode, portanto, ser vista como a versão maçonizante do Reichspublizistik, o vasto corpus de textos jurídicos e históricos reunidos nos séculos XVII e XVIII, dando origem a um espaço público de discussão sobre a natureza do Reich. Esse "corpo germânico" buscava tanto uma realidade geopolítica quanto um corpus mysticum. De certa forma, a Estrita Observância Templária apresentou-se como uma contribuição dos maçons "germânicos" a um projeto de basear o sonho de um Reich maçônico em bases geopolíticas reais. Pode-se arriscar dizer que era, de certa forma, uma espécie de império universal sagrado maçônico com uma base aristocrática alemã. Em uma Europa religiosamente dividida, esse projeto buscava reunir o continente em torno de um cristianismo ecumênico "primitivo", ou em torno de uma religião universal (católica sensu stricto). Por conseguinte, não surpreende que, nesta visão geopolítica de um mundo europeu reunificado através de uma maçonaria cavalheiresca, o príncipe romeno Alexander Murusi, hospodar da Valáquia, tenha previsto projetos de elaboração militar para reconquistar a Jerusalém terrena. No entanto, como muitas vezes acontecia, o conflito atrapalhou. Vários maçons como Joseph de Maistre (1753-1821) ou Jean-Baptiste Willermoz (1730-1824) queriam usar a Estrita Observância Templária para trazer de volta as ovelhas perdidas do protestantismo, ou mesmo da Ortodoxia, para o seio da Santa Igreja Romana, contribuindo para o fracasso global.
c) A concepção francesa.
Assim que se libertou de Londres, a primeira Grande Loge de France (GDLF) (1736-1776) desenvolveu uma estratégia geopolítica relativa. Tentou, em vão, primeiro controlar todos os maçons e organizações do reino. Em 1765, criou uma comissão encarregada de organizar o corpo maçônico em linhas nacionais. O tratado assinado naquele ano com a Grande Loge des Modernes foi apenas uma espécie de efêmero acordo de cavalheiros. Paris pediria a todas as Lojas na França, estabelecidas por Londres, que fossem reconstituídas por Paris. Isto não foi isento de problemas, como demonstram, por exemplo, as reservas da Anglaise, com sede em Bordéus. No entanto, Londres gostaria de tratar a primeira GLDF como uma simples Grande Loja provincial. O sucessor do GLDF, o Grande Oriente da França (GODF), fundado em 1773, tentou impor um projeto geopolítico maçônico heliocêntrico: uma série de Obediências nacionais "orbitando" o GODF, o novo sol do mundo hirâmico. As tentativas de 1775-1777 de chegar a um novo tratado com Londres falharam, particularmente porque ocorreram no contexto da Guerra da Independência com os futuros Estados Unidos (1775-1783)[7]. Após o declínio da estrita observância templária em terras de língua alemã, a influência do GODF tornou-se dominante na Europa continental, particularmente na Dinamarca, nas regiões rino-vestfálias, nos Países Baixos austríacos e em vários portos na Itália ou na Polônia. Como foi o caso de Londres, fora das fronteiras francesas, a resistência de certas obediências nacionais quebraria o heliocentrismo maçônico do GODF. Na França, a incapacidade do GODF de unificar a maçonaria francesa e criar um sistema único de graus pós-magistrais, particularmente sua rivalidade com o Grande Oriente dit de Clermont (1773-1799), bem como a resistência de várias Lojas Matrizes como a Loja Saint-Jean d'Ecosse de Marselha, impediria a geopolítica maçônica francesa.
d) A concepção prussiano-sueca
Ou a maçonaria como ferramenta ideológica do Estado. Em vários estados, a maçonaria foi mais ou menos integrada de forma autoritária ao sistema estatal. Foi o caso da Prússia. O rei Frederico II protegeu a Loja de Berlim Zu den Drei Weltkugen (Três Globos), fundada em 1740 e se tornou, em 24 de junho de 1744, a Grosse Konïgliche-Mutterloge. Em 1774, ele deu "sua graciosa proteção, salvaguarda e favor" à jovem Grosse Landesloge der Freimaurer von Deutschland em Berlim, fundada em 1770 por iniciativa de Johann Zinnendorf (1731-1782). Algumas semanas antes de sua morte, o monarca garantiu, em carta endereçada à Royal York zur Freundschaft,[8] que qualquer maçom virtuoso e cidadão de bem poderia contar com sua proteção. Seu sobrinho e sucessor, Friedrich Wilhelm II, rei em 1786, protetor da Loja Mãe dos Três Globos (1770) e membro honorário da Loja Três Chaves de Ouro de Berlim (1772), parou de frequentar as Lojas, mas em 9 de fevereiro de 1976, ele confirmou sua proteção à Ordem. Em uma carta de 29 de dezembro de 1797 à Grande Loja Real York, seu filho Frederico Guilherme III, rei (embora profano) da Prússia em 1797, inocentou os maçons prussianos das suspeitas de "empreendimentos subversivos". Poucos dias depois, deu a esta Obediência os direitos já desfrutados pelas outras duas Grandes Lojas. Em um decreto de 20 de outubro de 1798, o rei proibiu reuniões ilícitas e sociedades secretas, mas o Artigo III abriu uma exceção para as três Obediências dadas a prática exclusiva[9] da Maçonaria na Prússia. As três instituições tornaram-se uma espécie de serviço público maçônico de confiança. Em troca de um monopólio estatal protetor, tornaram-se instrumentos estatais. Na Suécia, o rei Adolfo I Frederico tornou-se protetor e Obergrofmeister da maçonaria sueca em 1753. Após sua ascensão, seu filho, Gustavo III, rei de 1771 a 1792, foi proclamado protetor da Ordem, então Vicário Salomonis. Seu irmão Carlos, Duque de Södermanland e futuro Carlos XIII, tornou-se Orden Meister e Grão-Mestre da Maçonaria. Ele unificou a Maçonaria e estabeleceu um novo regime maçônico, esotérico-cristão chamado Sistema Sueco, organizado em três classes e oito graus. A fim de integrá-lo plenamente ao poder, em 1811, Carlos XIII estabeleceu uma condecoração de Estado, a Ordem de Carlos XIII, limitada a 30 membros, que tinham que ser maçons. Ela existe até hoje. O sistema sueco tornou-se monopolista na Suécia, mas expandiu-se com os desenvolvimentos geopolíticos do Reino da Suécia. Em torno do Báltico, entre competição e cooperação, as maçonarias estatais dos Estados ribeirinhos serviam para apoiar sua geopolítica, e atuavam como um instrumento ideológico dentro das fronteiras estatais.
Em geral, a geopolítica maçônica se sobrepunha aos interesses políticos e econômicos dos Estados. No decorrer do século, a Ordem se diluiu, apesar das vãs tentativas dos conventos internacionais de definir a "ciência" maçônica. Estes incluíam Altenberg (1745), Kolho (1772), Brunswick (1775), Lyon (1778), Wolfenbüttel (1778), Wilhelmsbad (1782) e os dos Philalethes (1784/5 e 1787). Em última análise, a Ordem queria construir o novo Templo de Jerusalém, lá e depois. Também é importante considerar utopias geopolíticas maçônicas, como o projeto do Barão von Hund (mencionado acima), que queria fazer de Labrador uma colônia modelo povoada de nobres e protegida das paixões e vícios do mundo profano, ou os projetos "nesomanic" para cidades hirâmicas ideais na Austrália ou Lampedusa. Infelizmente, os Irmãos, Lojas e Obediências muitas vezes chafurdaram em uma nova Babel profana. Nenhum sistema maçônico transnacional conseguiu se impor. Apesar do sonho do ecumenismo, dos discursos universalistas e do cosmopolitismo ambiental, a maçonaria cada vez mais polimorfa do século XVIII foi se nacionalizando.
Bibliografia
Beaurepaire, Pierre-Yves. A República Universal dos Maçons. De Newton a Metternich. Rennes: Ouest-França, 1999.
Beaurepaire, Pierre-Yves. A Europa dos maçons. Paris: Belin, 2002.
Beaurepaire, Pierre-Yves. O Espaço dos Maçons. Uma sociabilidade europeia no século XVIII. Rennes: Prensas Universitárias de Rennes, 2003.
Giarrizzo, Giuseppe. Maçonaria e Iluminismo na Europa do Século XVIII. Veneza, Itália: Marsiglio, 1992.
Hivert-Messeca Yves, Europa sob a Acácia, Vol. O século XVIII. Paris: Dervy, 2012.
Jacó, Margarida. Iluminismo Vivo: Maçonaria e Política na Europa do Século XVIII. Oxford: Oxford University Press, 1991.
Reinalter, Helmut. O Papel da Maçonaria e das Sociedades Secretas no Século 18. Innsbruck, Áustria: Scientia 39, 1995.
Notas
[1] Yves Hilvert-Messeca, Groupe Société-Religion-Laïcité (CNRS).
[2] Alexandre Defay, La Géopolitique (Paris: PUF, 2004)
[3] O Grand Tour era uma tradicional viagem pela Europa, feita principalmente por jovens de classe média alta nos séculos XVII e XVIII. Essa experiência tinha como objetivo ampliar horizontes e aprofundar o conhecimento em arte, cultura, arquitetura e idiomas.
[4] Daniel Roche, Le Siècle des Lumières en province. Académies et académiciens provinciaux 1680–1789 (Paris: Mouton, 1978), 1:300
[5] Ver abaixo
[6] Pierre-Yves Beaurepaire, L'Espace des francs-maçons. Une sociabilité européenne au XVIIIe siècle (Rennes: Presses Universitaires de Rennes, 2003), 99-102.
[7] Na guerra de independência dos Estados Unidos, a França ficou do lado dos americanos, contra o domínio inglês.
[8] Saindo de uma Loja de Berlim da Loja Mãe dos Três Globos, a Loja das Três Pombas, criada por franceses em maio de 1760, tornou-se a Amizade das Três Pombas em 1761 e, em seguida, a York Real da Amizade depois que o príncipe Eduardo, duque de York e irmão do rei George III foi admitido. Em junho de 1789, a Loja se separou e proclamou-se a Grosse Loge von Prussen (Grande Loja da Prússia), em seguida, em 1845, adicionou Gennant Royal York zur Freunschaft (Chamado de York Real da Amizade) ao seu nome distintivo.
[9] O monopólio só foi encerrado em 1893 por uma decisão do Tribunal Superior Administrativo de Berlim.
Publicado em Ritual, Secrecy, and Civil Society – Volume 2 – Issue 1 – Spring
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